mercredi 18 novembre 2009

Inesquecíveis Passividades
















A presença de Peter na minha vida, a partir dessa data, passou a ser uma bênção! O Pat era o meu companheiro mas Peter trouxe-me o encanto do seu belo pequeno corpo e a sua sublime passividade. Temos o Norte, o Sul, o Este, e o Oeste. Pat era o meu Norte, o Peter o meu Sul, o Este o meu talento para o desenho, e o Oeste, a minha permanente necessidade de escrever. Senti-me um homem completo, preenchido! Era então tão bom viver! Saber, sentir, que o meu corpo tinha uma razão de existir, de estar sobre esta terra, enquanto o meu coração me pulsasse no peito. Esse peito tão cheio de amor por tudo e por todos. Sobretudo o meu grande amor pela Vida, essa Vida que só se vive uma vez! Até mesmo a nebulosa Londres senti que se tinha tornado soalhenta! Acordar de manhã ao lado do Pat o meu primeiro pensamento era para o Peter e aquele seu corpo ali todo à minha espera era uma outra razão para viver! Para mim era importantíssimo viver, amar, ser feliz, gozar essa vida que tinha tão injustamente sido roubada, recusada, ao meu querido irmão Alberto!

O trabalho na Foyles era outra grande conquista da minha vida. Fazer um trabalho que me apetecia fazer, trabalhar com gente com a qual tanto gostava de estar, ter um pequeno apartamento onde eu era rei, sem que o Pat fosse meu vassalo! Até ir almoçar todos os dias ao Woolworth’s era uma lança em África, tomando em consideração que nesse continente se morria de fome! Eu tinha o meu emprego, o meu lar, o meu companheiro e, acima de tudo, tinha o Peter, aquele aquele jovem corpo cheio duma frescura abrasadora! Todos os fins de semana tinha a presença do Peter para me iluminar os sombrios londrinos dias! Todos os domingos íamos os três esmiuçar essa bela e grande cidade! Depois desses gloriosos momentos vividos lado a lado através dessa Londres a transbordar História por todos os poros, todos os recantos, todas as ruas, acabar o dia na cama entre dois homens que amava, era a suprema dádiva dos céus!

Nessa altura da minha vida, em Londres, tive um dia a aparição de outro homem que tanto também tinha amado! O Zé Melo e a Rita vieram passar uns dias connosco. Por causa da Guerra dos Seis Dias tinham deixado tudo para trás em Jerusalém e procurado refúgio em Paris. Tinham vindo a Londres para conhecer essa real cidade e darem-me um real abraço cheio de saudades dos nossos belos tempos em Jerusalém! Eu continuava a ser importante na vida do Melo. De tal modo que quase me implorou que eu viesse viver com eles em Paris. Que eles trabalhavam para um grande milionário em Paris e que me podiam colocar a trabalhar numa butique israelita ali para a Ópera. Tanto insistiram que acabei por ceder! Chalk Farm, Pat, Peter, Londres, eram tudo o que eu tinha e já era tanto, mas o meu instável ciganado sangue que me corria nas veias levou-me até Paris. O Pat e o Peter vieram acompanhar-me à estação onde apanhei um comboio que me levaria até Dover, onde apanharia então um barco até Calais, e daí outro comboio até Paris, ali nos Champs de Mars, onde o Melo estaria à minha espera com as minhas duas malas. Ao despedir-me do Pat e do Peter com lágrimas nos olhos, sabia que os não deixava sós. Tinham-se um ao outro para se sentirem menos sós sem a minha presença e, depois, como combinado com o Melo e a Rita, o Pat mais tarde viria ter connosco. Só o Peter foi como uma facada perder o seu corpo que tão bem aprendera a dar-se inteiramente ao meu! Peter que certamente encontraria outro alguém e um dia esqueceria que eu passara por ele na sua vida!

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