samedi 28 novembre 2009
Passeios Nocturnos Pelo Bosque
Na Swan, sempre a mesma monotonia. Trabalho, pouco! Horas encostado à porta a ver passar as belezas, muitas! Mesmo sem descer do meu degrau eu atraía a fauna! Uma das primeiras vítimas foi um belo janota que era um dos membros do pessoal duma dessas famosas Galerias ali no Boulevard Haussmann. Às horas do almoço ele passava à porta da butique e ali ficava especado a apreciar os vestidos expostos na vitrina. Pensei que, ou ele pensava em fazer uma surpresa à sua esposa comprando-lhe um daqueles belos vestidos até aos pés, ou talvez para ele próprio quando ia a festas muito especiais. Ele mantinha um olho sobre a montra e o outro sobre mim! Acabei por perceber que era a minha pessoa que o interessava verdadeiramente. Como na butique havia uma escadinha que nos levava a uma pequena dependência que fazia de arrecadação, decidi meter conversa com ele. Ele era um jovem bastante bonito, e eu raramente sabia resistir a homens bonitos. Convidei-o a entrar para ele deitar uma vista de olhos à nossa vitrina no interior onde tínhamos em exposição dezenas de “bijous”. Ele deixou os seus olhos passearem sobre esses pechisbeques, mas o pechsibeque que mais lhe interessava estava escondido entre as minhas pernas. Fechei a porta, convidei-o a subir, e mostrei-lhe o pchisbeque. Ele gostou, mas como não estava à venda, limitou-se a experimentá-lo para ver se era a sua medida. E era! Durante algum tempo veio uma vez por semana para provar uma vez mais a minha jóia rara, para ver se ainda servia!
Depois duma longa temporada de abstinência os negócios arrancaram a grande velocidade. Não tinha clientes para nos comprarem um vestido mas tinha muitos interessados na única mercadoria ali exposta à porta: o meu corpo! Nem foi preciso fazer saldos! A clientela começou a entrar para apreciar o artigo e, por vezes, experimentavam o tamanho, ali mesmo na pequena cabine de ensaios! Até um português que trabalhava ali ao lado, numa garagem, começou a vir meter o nariz onde não era chamado! Ou tinha sido? Pois que depois as remessas começaram a ser entregues ao domicílio, ali contra um camião indiferente ao que se passava!
Para mim, o sexo passou a ser uma espécie de droga dura, e quanto mais dura era essa droga que Deus decidira implantar entre as pernas dos homens, mais dura era a minha droga! Isso porém transformou-se numa especiaria que tinha vindo dar algum sabor à minha sensaborona rotina ali naquela butique onde multidões passavam à sua porta sem entrarem, à parte Moshé quando me vinha substituir para eu ir almoçar, assim como aqueles que entravam para tirar as medidas no primeiro andar. A minha vingança era, chegado a casa onde ninguém me esperava, fingir que jantava e, logo a seguir, dar um salto ao Bois de Boulogne, ali mesmo à porta, para encontrar alguém que me ajudasse a digerir o meu pobre jantar e a minha rica solidão! Nesses passeios nesse bosque apenas iluminado pelo luar - quando a lua se atrevia a mostrar-se - eram uns atrás dos outros, como um cigarro que apenas se apaga depois de muitas ávidas fumaças! Essa insolente bulímia que me obrigava a fumar todos os meus cigarros até ao filtro, até me queimarem os dedos!
O Melo continuava permanentemente dormitando no meu pensamento, mas isso era o fruto proibido pendendo na árvore dos meus pecados. Aquele ardente beijo trocado naquela noite em Herzelia continuava a ser aquele ponto final definitivo nas nossas vidas, nos nossos destinos! Talvez mesmo ao nosso amor! Eu, por vezes, mergulhava no meu subconsciente à procura duma saída. Eu tinha que sair das garras do Moshé e da sua butique e dos meus dias e noites submersos em sexo passageiro!
Além da monotonia daquelas oito horas por dia na butique, cortada apenas pelas visitas do português, do belo magnate daquela famosa Galeria parisiense, e de muitas novas caras passando à porta detendo-se apenas para vazar os testículos, a minha vida não tinha qualquer rumo! Para preencher aqueles insondáveis momentos de solidão, por vezes passava-me pela mente voltar para Londres, aos braços do Pat e do Peter, mergulhando na sumaúma da minha cama, entalado entre ambos. Eu começava a sentir uma necessidade imperiosa de, em Paris, encontrar alguém a quem me pudesse dedicar inteiramente, e sair daquela sombria selva do Bois e das orgias em Boulogne, em casa desses dois promíscuos e das suas tão apreciadas duplas penetrações e respectivas orgíacas festas com dezenas de depravados e seus vibradores e tantos outros apetrechos duma sexualidade pervertida. Deixei de frequentar essa casa na noite em que, como grande atracção, um dos convidados enrabou o seu próprio filho perante os extasiados olhos de todos os outros sádicos espectadores!
Um domingo de manhã, acordado pelo irreverente sol através das minhas persianas, depois do meu primeiro cigarro do dia, desci os meus encaracolados seis andares e fui ao padeiro comprar uma baguette para o meu pequeno almoço. A caminho da padaria esbarrei contra um jovem muito alto, muito loiro, olhos muito azuis, um bom exemplar da exultante raça ariana. Ele sorriu-me e disse-me “bonjour”! Eu respondi aos seus insinuantes votos dizendo-lhe “bonne nuit”, pensando comigo mesmo que teria preferido uma "boa noite" com ele na cama. Ao regressar da padaria com a minha baguette na mão como se fosse para a guerra decidido a ganhar a batalha, dei com esse belo ariano encostado ao umbral da porta de escada mesmo ao lado da minha. Ao passar por ele, ele novamente me sorri e me pergunta por que razão tinha eu correspondido ao seu “bom dia” com um “boa noite”? Ele era duma beleza tal que não resisti à tentação de, com um dos meus sorrisos muito intencionais, lhe traduzir o meu pensamento de havia poucos minutos. Ele aproveitou a ocasião para, olhando para a minha longa baguette, perguntar se eu ia tomar o meu pequeno almoço com os meus. Respondi-lhe que não, que vivia só! Ele ripostou dizendo-me: que tristeza, uma tão bela manhã dum soalhento domingo, tomar o pequeno-almoço a sós. Que ele também vivia só e que ainda estava em jejum, que o acompanhasse a sua casa, trouxesse a minha baguette e, assim, tomaríamos o pequeno-almoço juntos. Abri os braços ao inesperado convite e segui-o. A minha bulímia rapidamente também acordou, pronta para saborear uma boa refeição!
Ele morava ali mesmo no rés-de-chão esquerdo, num pequeno estúdio muito mal ajeitado. Fechou a porta e tirou-me a baguette da mão e pousou-a sobre a pequena mesa perto da janela que dava para a rua. Pediu-me para me acomodar. Como a sua larga cama estava ali toda desfeita a sorrir-me convaditivamente, acudi ao apelo e sentei-me na sua borda. Ele preparou o pequeno almoço com ovos estrelados e café com leite. Pôs a mesa ao mesmo temp que se apresentava: que era alemão, que se chamava Heinz, e que era jornalista. Também me apresentei e, em Alemão, disse-lhe que era português e que tinha vindo de assalto até Paris; que trabalhava numa butique na Rue Scribe, ali à Ópera. Ele, muito surpreendido, pousando os talheres sobre a sua muito bem atoalhada mesa perto da janela, exclamou:
- Ich habe auch dort in der Oper arbeiten! Nicht nur die Bewohner und die Arbeit in der gleichen Gegend!
Não compreendendo muito bem aquela lengalenga, pedi-lhe que mo traduzisse em Francês! Ele então fez-me compreender que não só éramos vizinhos, como também ambos trabalhávamos na mesma área de Paris!
Depois das apresentações sentámo-nos ambos à mesa e deliciámo-nos com aqueles belos ovos estrelados e a minha baguette que ele descontraidamente cortara à mão. Enquanto nos regalávamos com aquele imprevisto pequeno almoço, falou-se de Portugal, da França, e da Alemanha. Da Alemanha soube que ele tinha nascido em Berlim, onde tinha feito os seus estudos e começado a sua carreira como joranalista. Que já tinha feito algumas reportagens em Portugal para o jornal para que trabalhava, e que tinha adorado o país! O seu clima, os seus belos muito orientais homens, a sua comida! Que adorara “pasteles de kabalhau”! Achei graça ao seu “kabalhau” e disse-lhe que um destes dias lhe fariam pastéis de bacalhau. Ele aceitou a proposta com uma condição: “as soon as possible”! Depois desta curta frase em Inglês começámos a comunicar apenas nessa língua! Língua essa que passaria a ser a única língua a ser utlizada entre nós, embora um desejo muito intenso de utilizar as nossas duas líguas em bilingue se apoderou de mim! Como ele tinha mencionado que tinha gostado do visual um tanto oriental dos portugueses, pousei a minha mão na sua coxa e perguntei-lhe se eu também tinha algumas semelhanças com os árabes? Ele, aprisionando a minha faminta mão, disse que não, que eu era especial, que não tinha tipo de português mas que quando eu passara por ele na rua, com a minha baguette na mão, lhe tinha desperto o desejo de me conhecer melhor, e como eu lhe tinha desejado uma "boa noite" ele agora gostaria de nos proporcionar uma "boa manhã", ali naquela sua cama vazia à nossa espera. Levantei-me e fui sentar-me na borda dessa prometedora cama e aguardei os acontecimentos. Ele não tardou a juntar-se a mim. Finalmente eu fazia amor com um homem numa cama fofa, entregando-me totalmnte nos seus longos braços que tanta ternura e desejo albergavam! Foi uma "boa manhã" de dar e receber os nossos corpos, ambos, talvez, desejosos de que aquela vez não tivesse sido a única vez!
Depois, contente com o sol no céu azul e o meu corpo completamente saciado, subi ao meu sexto andar enquanto ele ficou no seu estúdio a lavar a loiça e a limpar as migalhas. Talvez, como eu, desejando que aquela vez não tivesse sido apenas a única vez!?
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