samedi 28 novembre 2009
Michel-Ange Auteil
Chegado a Paris, lá estava o Melo à minha espera com o seu grande sorriso e braços abertos para me receber a mim e as minhas duas malas. Depois dum grande abraço tomámos o Metro para nos apear em Michel-Ange Auteil, ali muito perto da Rue Erlanger, onde eles viviam. Esta rua era curta, estreita, e pouco movimentada. Eles viviam num pequeno rés-de-chão dum modesto prédio sem grandes ares. Tinham apenas uma sala com um grande sofá que abriam à noite para eles dormirem. O único quarto que havia era propriedade privada de Sua Majestda a Raínha Dona Anaiss! Tinham também uma minúscula cozinha que era o domínio da Rita, e uma pequena casa de banho. Da sala ao quarto da Anaiss havia um pequeno corredor onde eles iriam desenrolar algumas noites um pequeno colchão que seria o único espaço onde eu iria poder estender-me à noite para dormir ou, pelo menos, tentá-lo, pois que sempre que eles queriam ir à casa de banho durante a noite, tinham de passar por cima de mim e acordarem-me. O que não era nada práctico para qualquer de nós!
Rita recebeu-me de braços abertos mas, mesmo assim, não conseguia sentir-me tão confortável como no meu doce “chez-moi” em Chalk Farm. O pior problema foram as minhas duas malas que foram escondidas por detrás do pequeno bar que havia na sala e era um grande desconforto sempre que eu precisava de algo feito prisioneiro nessas malas entaladas entre a parede e pequeno balcão do bar. Era o cabo dos trabalhos! Uma das poucas venturas era estar de novo perto do meu Tété e da Rita! Anaiss continuava impertinente e desagradável. As minhas predições acerca dela tinham-se realizado! Julguei crer que eu conseguia ler o futuro ainda com mais clareza do que uma cigana ou um marabu! As minhas maiores alegrias ainda eram as fugas que eu e o Melo fazíamos a um grande Café ali na Rue D’Auteil, onde passávamos bons momentos entre nós dois. Rita trabalhava para um grande magnate mexicano ali perto, e o Melo fazia de caixeiro-viajante para o Moshé.
Zé levou-me uma manhã visitar o seu patrão, o Moshé, que tinha trespassado a sua butique no King David Hotel, em Jersualem, para tamém fugirem - ele, sua mulher, e filho - à Guerra ds Seis Dias. Esta sua butique em Paris encontrava-se perto da Ópera, ali na Rue Scribe, mesmo ao lado da entrada principal do hotel com o mesmo nome. Era uma pequena butique com uma simplória montra onde se podiam ver expostos vestidos pretos bordados a ouro, que eram confecionados algures em Jerusalem. O Moshé - que eu já conhecia de Jerusalem - ficou contente de me ver e imediatamente me propôs trabalho. Comecei logo no dia seguinte. Foi a Suzy, a mulher dele, quem me explicou como dirigir esse negócio. Como o meu ordenado iria ser de 1.500 Francos mensais, sem perda de tempo, comecei logo à procura dum quarto que pudesse vir a ser o meu cantinho e poder abrir as minhas malas.
Graças a um pequeno anúncio no Café-Tabac, na rue d’Auteil, onde costumava ir comprar os meus cigarros, fui visitar um quarto ali perto, na Rue René Basin. Era uma pequena água-furtada num sexto andar sem elevedor! O quarto era espaçoso e tinha o encanto muito especial de ter uma bonita janela de água-furtada mesmo à beirinha do telhado. Tinha apenas um divã, uma mesa e duas cadeiras, uma cómoda para pôr a minha roupa, e um lavatório com água quente e fria, assim como um espelho sobre uma pequena prateleira para alojar os meus cosméticos. Ao lado do lavatório havia igualmente um daqueles muito românticos bidés dos tempos da Maria Antonieta, que viria a ser-me de grande utilidade! A retrete encontrava-se no corredor e era de acesso a todos os outros inquilinos. Chuveiro não havia, mas eu remediei a situação comprando um longo tubo de borracha que eu enfiava na torneira do bidé e, dentro dele, com esse tubo por onde passava a água temperada ao meu gosto, tomava os meus duches! Havia também um pequeno canto de cozinha com um fogareiro a gaz, para eu me ragalar com os meus cozinhados!
Sem tardar, comecei a decorar esse quarto à minha maneira, ao meu gosto, tal como fizera no Sing-Sing. Pintei as paredes todas de branco, lavei bem o soalho, comprei uma colcha nova para o divã e umas almofadinhas para enfeitar. Nas paredes acabadas de serem pintadas de branco, com um lápis de carvão, fiz alguns dos meus desenhos que ficaram muito decorativos. Quando lá levei a Rita e o Zé ver o meu palácio, imediatamente a Rita se lembrou do trabalho que tínhamos feito em Beit Ha’Kerem! Os únicos inconvenientes era não ter casa de banho privativa e não ter ascençor que me acartasse até lá àquel sexto andar, tudo em escada de caracol. Nessa altura eu era jovem e saudável mas, mesmo assim, chegava alá ao topo com os bofes à boca! Uma das grandes vantagens era que tinha uns vizinhos todos muito cominicativos e, assim, convidavamo-nos constantemente a jantar uns em casa dos outros. Como éramos todos de etnias diferentes, cada qual tinha a sua cozinha tradicional a fazer provar aos outros. Gostava particularmente da garrida cozinha de dois irmãos africanos que viviam na porta mesmo ao lado da minha.
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