dimanche 15 novembre 2009
Limpar casas de porta em porta
Durante semanas andei à procura de trabalho mas esbarrava sempre com portas fechadas. Finalmente, pensando que talvez fosse por causa dos meus cabelos até aos ombros, decidi ir a um cabeleireiro e pedi um corte tradicional. Mas, aparentemente, não eram os meus cabelos longos que me impediam de encontrar emprego, era, presumo agora, uma talvez passageira crise de desemprego nessa indústria. Como o meu diploma era para hotelaria e não tinham quaisquer outras qualificações e o ordenado do Pat não chegava para pagar todas as despesas da casa, uma noite, quando a Berta veio, como era habitual, deixar o Papuzinho em nossa casa quando eles saíam à noite, eu queixei-me e ela informou-me que a empresa onde ela trabalhava, a tal em Holborn, procuravam alguém para todos os dias, depois das seis da tarde, quando os escritórios fechavam, para fazer a limpeza de todos os escritórios espalhados pelos três andares do edifício. Aceitei essa proposta e o Pat costumava, quando deixava a B.B.C. a essa mesma hora, vinha até Holborn dar-me uma ajuda. O trabalho consistia em despejar os cestos dos papéis, limpar o pó e passar o aspirador do terceiro andar até chegarmos ao rés-de-chão. Depois apanhávamos o Tube e regressávamos a casa, onde eu tinha que improvisar um pequeno jantar fossem lá quais fossem os restos da véspera.
Para angariar mais umas patacas para aguentar a situação mais ou menos de pé, um dia, vendo um anúcio no jornal pedindo “cleaners” para uma agência de limpezas em Hampstead, dei lá um salto e fui logo contratado. O meu primeiro trabalho foi em Golders Green em casa duma família judaica que tanto gostou do meu trabalho que me recomendaram a todos os seus amigos e vizinhos e, assim, graças ao meu amor a Israel, fui adoptado por todos e até comecei a ensinar Hebraico um dos filhos duma dessas famílias. O miúdo tinha aí uns seis anos e aprendia com uma facilidade surpreendente! Porém, como não eram eles que me pagavam, tinha de ir à agência receber o meu ordenado todos os sábados de manhã, pois que eu era pago semanalmente pela agência. Uma dessas vezes o proprietário, olhando-me fixamente nos olhos, disse-me que era um desperdício eu, com as minhas capacidades, andar a fazer limpeza em casa de quem calhava, e propos-me eu tomar conta da agência, pois que ele ia abrir uma outra e que não podia estar em ambas ao memo tempo. Assim eu deitei fora os meus baldes e esfregões e, sentado por detrás daquela grande secretária, um telefone, fichas, um livro de apontamentos, uma lista telefónica dos clientes, e uma pesada caneta, organizei o trabalho todo nessa agência, respondendo ao telefone daqueles que procuravam uma mulher a dias, assim como contratar novas empregadas para fazerem esse trabalho e, assim, eu satisfazia as necessidades do patrão, dos clientes, e dos trabalhadores.
Ao lado dessa agência havia uma outra. O seu proprietário procurou roubar-me ao seu concorrente e vizinho, mas eu recusei. Mas como ele era um bonitão e me fazia olhinhos, prestei-lhe outro tipo de serviços que ele parecia muito apreciar, pois que todos dias fechávamos entre o meio-dia e as duas da tarde, o que aproveitávamos para uma “limpeza geral” no seu quartinho da retaguarda e depois íamos almoçar a um pequeno restaurante ali na mesma rua. A nossa situação financeira melhorou um pouco mas, mesmo assim, precisávamos de mais uns “English-Pounds” para as nossas farras comprar de vez em quando roupa nova, aceiteitámos a proposta de um dos nossos clientes em Hampstead que queria alguém que fizesse uma limpza geral no seu vasto apartamento aos domingos, pois que durante a semana eles não estavam em casa, pois que ele e sua esposa ambos trabalhavam numa pequena empresa que eles dirigiam. Quando lhe apareço lá em casa pela primeira vez com o Pat - dois pelo preço de um - ele ficou contentíssimo com o bom negócia que tinha feito! Ele, o Mr. Marx, e sua esposa eram encantadores. Todos os domingos começávamos às nove da manhã e enquanto nós trabalhávamos a Mrs. Marx – uma doçura de pessoa – fazia o almoço e ao meio-dia sentávamo-nos os quatro à volta da mesa da cozinha e deliciavamo-nos todos com os saborosos petiscos de Mrs. Marx. Foram uns tempos duros mas simpáticos, que a despeito de tudo, nos deixaram saudades!
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Adoro seus texto
RépondreSupprimerMinha querida: Continua a ler-me! Há ainda tanto para me sair da alma e da pena!
RépondreSupprimerBeijo!
Rogério