samedi 28 novembre 2009

A Butique SWAN, ali à Ópera


O trabalho na butique era dum tédio mortal. Haviam poucos clientes e eu passava os dias à porta a ver passar os “petiscos” ambulantes. O telefone só tocava duas vezes por dia e clientes, também dois ou três, e nem sempre compravam alguma coisa. Como a porta da butique era mesmo ao lado da porta principal do Hotel Scribe, fiz amizades com um dos porteiros, um simpático cavalheiro já duma certa idade, que fazia muitas gorgejetas e que de vez em quando me punha algumas moedas na palma da minha mão. Isto a partir do dia em que lhe pedi um cigarro. Ele ofereceu-me um cigarro e disse-me para eu ir ali ao Café mesmo ao lado comprar tabaco, que ele tomaria conta da butique até que eu voltasse. Quando lhe disse que não tinha dinheiro para tal luxo, sacou dumas moedas do seu bolso e mandou-me ir comprar a minha droga! Desde esse dia, frequentemente ele me perguntava se eu tinha tabaco. Ele era arménio e uma doçura de pessoa!

O Moshé andava sempre na boa-vai-ela e só vinha tomar conta da butique quando tinha de me substituir para eu ir almoçar. Eu, quando tinha dinheiro, ia almoçar num pequeno “self-service” ali numa rua das trazeiras do Olympia, mesmo em frente da entrada dos artistas. Comia-se lá bem e barato, mas como o Moshé não me pagava o ordenado adiantado, o primeiro mês foi-me bastante pouco alimentício. O Melo por vezes também me ajudava, mas como eles também não andavam a nadar em dinheiro, era só de vez em quando. A propósito destas dificulades, uma vez o Moshé foi almoçar e quando voltou disse-me:

- Agora vai tu almoçar. Tens uma hora!

Respondi-lhe que tinha uma hora mas não tinha dinheiro para pagar o almoço, se ele me podia avançar uns cobres. Respondeu-me que o problema era meu, que ali não era a Casa da Misericórdia! A partir desse dia fiquei a detestar essa monstruosa criatura dum egoismo e duma arrogância atrozes! Ao sair, sem sequer ter um centavo para comprar fosse o que fosse, ele teve o descaramento de, muito cinicamente, me desejar “bom apetite”! A semente da discórdia e do ódio acabara de ser lançada! Uma hora mais tarde, quando regressei, fui dar com o Moshé ainda a arrotar e a espevitar os dentes, com um palito entalado entre as beiças. Nesse momento, como um vulcão que entra em erupção, um ódio, como lava, começou a ser vomitado pela cratera e, destruindo tudo pelo caminho, desceu até ao vale!

Uma tarde ele recebeu uma chamada de um sobrinho seu de Jerusalem a perguntar-lhe se ele podia vir para Paris trabalhar para ele. A sua resposta foi clara e impertinente:

- O mais que eu te posso pagar são 1.500 Francos! Com este ordenado ninguém pode sobreviver em Paris!

Nesse dia jurei vingar-me daquele insulto à minha porca miséria! E esse dia, um certo dia, chegaria! Quando prometo alguma coisa, seja a quem for, sempre cumpro!

Os dias foram passando e ao fim do primeiro mês recebi o meu primeiro ordenado. Claro que tive de ter muito cuidado, não me meter em cavalarias altas, pois que desse ordenado, a primeira coisa que tinha de fazer era pagar o meu quarto, que me custava 250 Francos por mês! Depois tinha de tomar em conta as despesas para o almoço e mais tarde, em casa, para o jantar. Sem tão-pouco esquecer o tabaco. Que era já caríssimo! Alugar um televisor é que não resisti! Era, dum certo modo uma companhia, embora eu continasse a não gostar do som da língua francesa. Embirrava com aquele uso de acentuarem sempre a última sílaba de cada palavra, mas isso ocupava-me os serões. De vez em quando ia à Rue Erlanger passá-los com com o Melo e a Rita mas, por outro lado, não queria ser um permanente intruso na privacidade deles.

Outro problema era que a minha necessidade de carne fresca fazia-se sentir pesadamente. Um dos meus vizinhos, um dos irmãos africanos vinha por vezes bater à minha porta para bater o papo, e algo nos seus olhos me fazia pressentir que ele se sentia tão necessitado como eu. Mas nem um nem outro ousou manifestar-se abertamente. Comecei então a sair à noite. Grandes passeatas até ao Bois de Boulogne,como um esfaimado lob em busca duma presa. Foi numa dessas minhas idas que esbarrei com dois jovens franceses que me convidaram a ir tomar uma bebida em casa deles. Eles moravam em Boulogne Billancourt. Claro que não tomámos nenhuma bebida. Nem quente nem fria! Fomos logo direitinhos à cama e matámos a fome uns aos outros. A especialidade da casa parecia ser a dupla penetração, coisa a que comecei a gostar muito particularmente. Um deles, o mais jovem, era evidente que apreciava aquele tipo de intrusão. Foi assim que o nosso serão, depois de termos lido muitas páginas do Kama Sutra, terminou. Foi a “grande finale”!

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