Uma manhã a família Ferreira da Tentadora foi acrescentada pela a súbita aparição duma mulher grávida, lindíssima! Ela tinha os olhos mais verdes que jamais viria a ver. Era um pouco distante e um nadinha arrogante, mas que beleza de mulher! Quando uma ocasião fui levar à sua mesa uma garrafa de Água do Luso, a Zuzu apresentou-me essa jovem mulher de olhos verdes e nariz adunco, que muito se assemelhava a uma Deusa Grega. O seu nome era Rita, e era a mulher do seu filho Tété que, até então nunca tinha despontado nesse belo horizonte dos Ferreiras. Mas esse dia não tardou.
Uma bela manhã o Tété aparece-me pela frente como uma visão vinda do céu! Branco como a cal da parede, risonho como um belo dia de sol, e comunicativo como eu também o era. Algo como um corisco nos abalou. Ele sentava-se sempre ao lado da Rita, a sua mulher, grávida do primeiro rebento da sua recente união pelo casamento. Ele era um grande palrador e acenava a todos quantos passassem pela sua mesa, mesmo não os conhecendo de parte alguma. Constantemente olhava para mim e fazia-me continência. Talvez pressentindo que eu gostava da tropa e de fardas. Ele usava uns calções muito curtos ponde a descoberto um belo par de coxas, e uma T-Shirt muito justa onde se adivinhavam os seus dois belos mamilos. Frequentemente ele me olhava de esguelha com aqueles seus tão belos e penetrantes olhos castanhos.
Um dia ele levantou-se para ir à casa de banho lavar as mãos e eu aproveitei a deixa para também ir à casa de banho. Encontrei-o frente ao espelho acariciando a sua barba de dois dias dum tom azulado. Meti-me na retrete, fechei a porta, e pus-me a espreitar através do buraco da fechadura, que era mesmo em frente dos urinóis. Não sei se foi telepatia ou pressentimento do Tété, ma ele veio urinar mesmo ao pé do meu buraco de fechadura. O seu sexo era branco como o resto do seu corpo, e generosamente agraciado pela natureza. Ele urinou e depois ali ficou mais uns minutos a brincar com o seu sexo até obter uma razoável erecção. Eu estava encantado com aquela contemplação quando, de repente ele desvia-se e vejo o seu olho a espreitar do outro lado, pelo mesmo buraco da mesma fechadura.
E não a última!
Quando a família Ferreira acabou as suas férias na Ericeira vieram-se todos despedir de mim. O senhor Luís com um grande sorriso, a Zuzu com a sua habitual doçura, a Rita cada vez mais grávida e aqueles seus olhos verde-garrafa que me fascinavam, e o Tété, que me deu o seu cartão de visitas, dizendo-me que eles iam abrir um grande Snack-Bar na avenida de Roma, e que eu seria bem-vindo como barman.
Eu, entretanto, continuei o meu trabalho na Casa das Cavacas. Comecei a ter grandes problemas pelo facto de a cunhada do senhor João andar com problemas com um cancro na língua e passava noites horrorosas a gemer de dores insuportáveis. Falei com a Glória, que trabalhava na cozinha na confecção de bolos, e ela diz-me que se ia casar com o senhor Chico, que iam abrir um grande Café ali perto do Jogo Da Bola, e que eu poderia ir trabalhar com eles e afastar-me assim desse tormento.
Além disso continuava a suportar mal os gritos dos clientes do dentista, ali mesmo em frente da larga janela frente ao bar/copa onde eu trabalhava de manhã à noite. Ainda por cima comecei a ter sérios problemas com o meu dente de siso na gengiva de cima, do lado direito. As dores eram tais que não tive outro remédio senão ir consultar aquele dentista a quem eu chamava o “tira dentes”!
Fui vê-lo, pensando que ele me poderia dar um toque e resolver o assunto. Mas não! Nesses tempos o único recurso era arrancar o dente. Não tive outra solução senão concordar com o diagnóstico e ser eu desta vez a a dar os gritos que todos os precedentes tinham dado, a prevenirem-me de me manter afastado daquela cadeira de torturas. Acabado esse terrível suplício fui para casa dormir, depois dum cházinho de tília que me tinha feito a Glória. Nessa tarde jurei a mim mesmo nunca mais voltar a pôr os pés num dentista! A não ser que fosse par lhe partir as trombas!
Entretanto a Glória casa-se com o senhor Chico e o Café Chico abre as suas portas. Farto de ouvir os gritos das vítimas do malvado dentista, dou um salto ao Café Chico para ver como eram as coisas. Era um Café enorme muito bem decorado, muito moderno, com muitas mesas e cadeiras e uma grande esplanada plantada no grande passeio em frente do Café. Queixo-me à Glória acerca dos gritos vindos constantemente do dentista e ela propõe-me eu ir trabalhar para o Café Chico. Aceitei com ambas as mãos! Ela chega lá dentro por detrás da copa e falou com o seu maridinho casado de fresco. Ela volta com um grande sorriso e diz-me que estava bem, que eu podia começar quando quisesse como empregado de mesas da esplanada.
Fui a correr falar com o senhor João acerca do incómodo que andava a ter todos os dias com os gritos vindos do dentista. Ele baixou os olhos, disse que tinha muita pena que eu me fosse embora, que talvez esperasse uns tempos, que já tinha ido à Câmara Municipal falar acerca dos gritos que vinham do dentista, que muitos clientes já se tinham igualmente queixado, e que estavam à espera que o dentista encontrasse um outro gabinete longe do centro da cidade.
Mas eu tinha gostado tanto do Café Chico!
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