Tempos depois deste incidente, fui abordado por um senhor muito distinto que se apresentou como sendo o director do Hotel Turismo da Ericeira, ou coisa que o valha. Ele perguntou-me se eu estaria interessado em ir trabalhar para o Hotel Turismo como empregado de mesas do bar desse hotel, quando acabasse a época e o Chico fechasse para o Inverno. Aceitei a oferta! Ele deu-me o seu cartão pedindo-me que aparecesse logo que estivesse disponível. Não recordo o seu nome.
Ora, um dia, ao fazer o meu trabalho, deixei cair da minha bandeja um cálice de bagaço que se estilhaçou pelos mosaicos do chão. O senhor Chico fez-me pagar esse cálice! Não discuti e paguei! Pela minha cabeça passou uma onda de raiva. Então ele não me pagava ordenado, apenas o quarto e as três refeições diárias, eu só ganhava as gorjetas, e ele fazia-me pagar um cálice?
Para me vingar, atei um cordel daqueles de fazer os embrulhos dos bolos, ao cálice, agarrei na outra ponta do cordel e pus-me a passear pelo Café dum lado para o outro, a puxar o cálice como se ele fora o meu cãozinho, a provocar o senhor Chico. O senhor Chico, fulo, vem ter comigo e pergunta-me o que era que eu queria dizer com aquela minha atitude. Olhei-o bem nos olhos e respondi:
- Ando a passear o meu cálice! Paguei-lho, não paguei? Agora é minha propriedade! Posso fazer dele o que me der na real gana!
O senhor Chico ficou tão vexado que grita para que todos os clientes ouvissem:
- Ponha-se no olho da rua! Nunca mais ponha aqui os pés no meu Café!
Moralidade da história:
No dia seguinte estava a trabalhar no bar do Hotel Turismo da Ericeitra!
Claro que dias depois pus os pés no Café Chico, mas como cliente, a provocar o senhor Chico, mas o senhor Chico não abriu o bico!
Paz à sua alma!
No Bar do Hotel Turismo tudo correu às mil maravilhas! Trabalhava só oito hora por dia e tinha ordenado e um belo quarto nas águas-furtadas! Estava ali mesmo implantado sobre as Furnas e era para lá que me ia repousar um pouco todos os dias.
Aqule impressionate espectáculo, aquelas altaneiras vagas a rebentarem violentamente contra aqueles imponentes e impávidos rochedos, lavavam-me por fora e por dentro.
Foi lá, empoleirado naqueles enormes rochedos, que escrevi um poema que intitulei Vagas!
Poema esse que viria a ser, muitos anos mais tarde, o título do meu segundo livro de poemas publicado em Paris e lançado em Mafra. Talvez esse poema um dia será cantado por uma fadista que um dia será tão grande como a grande Amália!
O meu trabalho agradou a tal ponto que algumas semanas depois me transfeririam para outro hotel que eles acabavam de abrir em Vale de Lobos!
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