lundi 24 août 2009

O Odeon
















Após os grandes fracassos com o Rui: o “pop-corn” e aquela oportunidade excepcional de ter caído nos seus braços, a minha luta pela minha sobrevivência subsistia. Tive de novo pôr os pés a caminho para encontrar outro emprego, outro ordenado que me permitisse viver como toda a gente que se preza. Ao princípio de cada mês eu tinha de apresentar 600 escudos à Dona Alice, sem ter de pedir esmola.

Uma manhã, observando a cara fechada da Dona Alice, reparei que aquele sorriso permanente de repente desaparecera como que por maldição. Depois do almoço, servido com uns certos maus modos, agarrei nas pernas e fui por aí abaixo até à Baixa para ver se um milagre me aconteceria.

Comprei o Diário de Notícias e sentei-me no Paladium, ali nos Restauradores, a fazer esquina com o Elevador da Glória. Sentei-me, pedi uma Bica, e comecei a folhear o jornal em busca dos anúncios. Perscrutei cuidadosamente cada um dos anúncios, mas nada! Apenas mulheres-a-dias e altos cargos eram propostos. Como o criado de mesa era um jovem muito simpático, quando o chamei para lhe pagar, ao mesmo tempo que ele me preparava o troco, falei-lhe do meu problema de desemprego, que era empregado de mesa, se no Palladium não precisariam dos meus serviços. Ele respondeu-me que não, que ele soubesse, mas que no Cinema Odeon eles andavam à procura dum empregado para o Bar. Que a prima dele trabalhava lá como arrumadora e que o bar do segundo andar estava fechado porque o senhor Rosa ainda não tinha encontrado ninguém para substituir um barman, que, há dias, tinha deixado o seu trabalho para cumprir o seu serviço militar. Ele aconselhou-me a ir ao Odeon e pedir para falar com o senhor Rosa, o responsável dos bares.

Atravessei a avenida, dirigi-me ao porteiro do Odeon e pedi-lhe para falar com o Sr. Rosa. Ele respondeu-me indiferentemente que o Sr. Rosa não estava, que só lá estava durante os intervalos. E virou-me as costas! Como a bilheteira estava ainda aberta fui comprar um bilhete para a geral e entrei. O porteiro olhou-me muito desconfiadamente, mas, claro, não me impediu de subir ao primeiro andar. Nem sei que filme estavam a mostrar nessa matiné.

Chegado ao primeiro andar a primeira coisa que vejo é o grande bar desse cinema. Estavam lá dois rapazes a lavar copos e a preparar tudo para o primeiro intervalo. Pedi para falar com o senhor Rosa mas o senhor Rosa tinha ido laurear a pevide. Que me sentasse ali naquele canapé, que ele não tardaria. Sentei-me e não esperei muito tempo. Vi um senhor de diminuta estatura subir as escadas e começar a dar ordens aos dois rapazes. Um deles segreda-lhe algo ao ouvido e esse quase anão dirigiu-se a mim e apresentou-se como sendo o senhor Rosa. Levantei-me e falei da minha necessidade de arranjar trabalho. Ele olhou-me dos pés à cabeça e, desconfiadamente, pergunta-me se eu tinha experiência do serviço de bares. Falei-lhe muito rapidamente do Cinema Roma, Tique-Taque... aí, Tique-Taque soou-lhe como uma prenda de Natal. Imediatamente se desfez em vénias, que me sentasse, que eu podia começar a trabalhar no bar do segundo andar, um bar muito mais pequeno, mas que logo que pudesse me transferiria para o bar de baixo. Falou-se de ordenado, horários, e dia de folga. O ordenado eram 300 escudos por mês, mais as gorjetas; os horários todos os dias das duas da tarde até quase à meia-noite, logo a seguir à sessão da noite, depois do segundo intervalo. Que tinha um dia por semana de folga. Qual o dia que mais me convinha? Imediatamente pensei no Nuno Fradique e pedi-lhe as quartas-feiras, explicando que nesses dias eu trabalhava na RTP. Perguntou-me que fazia eu na RTP? Respondi-lhe: “apenas figuração”, para não assustar a caça. Pediu o meu nome e morada. Quando lhe disse que morava na Sacadura Cabral ele garante-me que não era nada longe, que tinha eléctricos até quase à uma da manhã! E que se perdesse o último eléctrico, a caminhada também não era grande, bastava subir até ao Marquês de Pombal, depois o Saldanha, e o Campo Pequeno ali estaria de braços abertos à minha espera! Aceitei! Mais uma vez (que belos tempos!) nem contratos nem assinaturas.

Depois pediu-me para subir com ele ao segundo andar para me mostrar o bar lá de cima e, ao mesmo tempo, irmos ao grande armário em frente do bar, para ver se encontrava um casaco para o meu tamanho. Experimentei uns dois ou três casacos castanhos-escuros com uma lapela amarela e um deles assentava-me como uma luva! Depois mostrou-me uma gravata castanha que eu tinha de usar, que era obrigatório! Que eu tinha de vestir sempre camisas brancas, muito bem engomadas! Pediu-me para eu lá estar no dia seguinte às 14 horas, para me ensinar onde estavam as coisas todas desse minúsculo bar, e como funcionava a máquina de café de saco, e onde se encontravam as botijas suplementares de gás! Fiquei contente que nem um rato! Agradeci-lhe, apertei-lhe a mão e desci a correr, estando-me nas tintas para o filme que, agora me lembro, era com o Pedro Infante!

Ao chegar a casa disse à Dona Alice que tinha encontrado emprego no Odeon. Ela perguntou qual era o ordenado. Para a aquietar disse-lhe que eram 600 escudos. O seu meio sorriso murchou na sua muito desapontada cara e previne-me que isso não era nada, que eu tinha outras responsabilidades além do pagamento mensal da pensão. Disse-lhe para não se alarmar, que também ia ter muitas gorjetas! O seu sorriso, muito a medo, reapareceu vagamente, quase maternal, na sua receosa feição. Nessa noite o jantar foi muito mais animado. A malta estava satisfeia de eu ter encontrado uma ocupação, e que se eu precisasse de alguma coisa eles ali estariam para o que desse e viesse! A Dona Alice também nos amimou com uma bela torta de maçã para a sobremesa.

A seguir ao jantar, como muito frequentemente fazíamos, fomos todos tomar uma bica ao Café do Campo Pequeno. O Café da Avenida de Roma ficava apenas para quando eu aparecia na televisão, e isso nem sempre era com muita regularidade. Depois desse café, como pelo menos uma vez por semana, o Guilherme arrasta-nos todos a um bordel ali na Augusto Aguiar. Tanto eu como o António tentámos escapar, mas eles tanto insistiram, que eu e o António não tivemos outra alternativa senão mostramos que nós também éramos muito homens! Seguimos à pata até esse indesejável lupanar. Lá chegados, eles já conheciam bem o caminho de cor e salteado. Entrámos todos na sala das meninas que lá se encontravam sentadinhas de pernas cruzadas, sais muito curtas e decotes até ao umbigo, à espera da tesão da sua variada clientela. O Guilherme e o Zé Barbeiro foram direitos a duas delas que, aparentemente, já conheciam bem os seus serviços já prestados no passado. Depois deles terem acompanhado as meninas ao quarto delas, eu e o António discretamente deixámos a sala e procurámos a saída. Descemos as escadas a quatro e quatro e fomos para casa dormir ou, quem sabe, cada qual a sua silenciosa punheta, cada um na sua cama, às escuras, para não gastar muita electricidade à Dona Alice. Claro que eu não conhecia a táctica do António, mas a minha era o velho lenço para não sujar os impecáveis lençóis da Dona Alice, que a sua casa era uma casa séria!

De manhã, ao acordar, o habitual chichi matinal, e o lencinho muito bem lavadinho debaixo da torneira. Naquela casa não podíamos levar mulheres ou “desconhecidos”, No cesto da roupa suja, apareciam depois lenços muito mais do que ranhosos. Pensava que a Dona Alice não devia ter muitos conhecimentos de causa, pois que certamente usava (se ainda usava) as velhas toalhinhas de mesa de cabeceira dos tempos das nossas castas trisavós que Deus tem!

Como previsto, no dia seguite iniciei a minha odisseia no pequeno bar do segundo-andar do Odeon. O Sr. Rosa lá estava, como prometido, para me explicar o andamento das coisas nesse vetusto cantinho a que ele chamava bar, que eu estava suposto a gerir, para que o Sr. Rosa fizesse mais umas coroas e, com um pouco de sorte, eu também! O Sr. Rosa enviou-me para dentro do pequeno bar passando por uma estreita passagem. Ele ficou do lado de fora para me dizer o que fazer para que tudo corresse bem. O Sr. Rosa parecia ter ainda minguado um pouco mais durante a noite. Eu, de cócoras, perto da botija de gás escutava as suas instruções para que eu, antes de mais nada, acendesse a chama sob a máquina de café de saco. Do Sr. Rosa, eu, agachado, só conseguia ver a sua cabeça como se ela tivesse sido cortada e posta sobre balcão. Por momentos pensei que eu era a Salomé e ele o São João Baptista! Deu-me vontade de rir mas estava demasiado ansioso para tal fazer. Limitei-me a escutar o São João Baptista, perdão, o Sr. Rosa, e tudo facilmente entrou nas calhas. Como fazer café de saco eu já o tinha aprendido no Café Estrela. Depois foi verificar o frigorífico e saber onde se encontravam escondidas as caixas de cervejas e outras bebidas. Nesse tempo a grande moda eram os Pirolitos! O que eu mais precisava de saber era onde encontrar as bebidas, e verificar que o frigorífico estava bem carregado e a funcionar como deve ser. Perguntei-lhe onde estavam as garrafas de bagaço e aguardente velha, e outras bebidas alcoólicas, mas o Sr. Rosa declarou muito patronal, que essas bebidas estavam à venda no primeiro-andar, junto da Plateia, que ali no segundo-andar era “apenas” a Geral! Havia apenas bagaço ali naquele garrafão no chão! Isto dito, ele agarra na sua cabeça e desce para, muito mais senhorilmente, tomar conta do Bar da Plateia, para onde se iam sentar os mais abastados! Quando ele desapareceu pela escada a baixo, fiz-lhe um grande manguito e mandei-o levar onde levam as galinhas! Agarrei no meu bar dos pobres lacaios e tratei da minha vida! Tratei de me aprontar a receber os coitados dos espectadores que viriam para a Geral. O café estava pronto, o frigorífico bem atulhado, e os copos e chávenas bem alinhados na longa prateleira aparafusada a ambas as paredes que faziam daquela sopa dos pobres uma espécie de cantinho modesto onde só faltavam os manjericos. Pus um pouco de leite que encontrei no frigorífico naquele pequeno depósito incorporado na máquina de café, no caso de alguém me pedir um “garoto” ou um “galão”, que agora se chama muito requintadamente, “meias-de-leite”! A propósito de “garotos” e de “galões”, como eu gostava muito de garotos e de uniformes, senti-me nas minhas sete-quintas!

Por volta dum quarto para as três comecei a ouvir ruídos ameaçadores. Eles tinham aberto as portas do cinema para a primeira matiné e a gente da alta começava a instalar-se para verem aqueles filmes muita merdice do Pedro Infante. As boas famílias “acomodaram-se” na plateia, depois de terem tomado uma taça de campagne ou um cházinho. Os pobres serviçais começaram a trepar até ao segundo-andar mesmo à última da hora. Se calhar lá em baixo o porteiro era um homem bem educado e as senhoras e os cavalheiros entravam primeiro. Talvez só depois da plateia bem alojada é que a escumalha podia afoitar-se a entrar e depois rastejar até a sua Geral.

Todas estas minhas previsões me saíram totalmente erradas. Logo os primeiros cinéfilos a virem ao meu bar eram rapazes e raparigas muito bem arreados - provavelmente estudantes, filhos de boas famílias – que tinham quase todos uma preferência pelas Fantas bem fresquinhas. Outros pediram uma Bica e todos se comportavam muito educadamente, e alguns dos garotos não tinham galões mas eram, mesmo assim, muito galardoáveis. Logo na minha primeira serventia, durante um pequeno quarto de hora, fiz mais negócio para o Sr. Rosa, do que para o meu belo Rui durante um mês! Era tudo uma questão de clientes que vêm até nós por sua própria decisão para obterem algo que lhes apeteceu, e não nós atrás de clientes que se estão nas reais tintas para o que nós temos a propor! O melhor da festa foi que cada consumidor das minhas vendas, pagavam e deixavam sempre uma gorjeta. Uns 20, outros 50 centavos. Uma mina! A Dona Alice iria ficar radiante quando soubesse que eu ia ter patacos que chegassem para lhe pagar a mesada e ir às putas uma vez por semana! Milionário não, senão alugaria um belo apartamento na Praça dos Estados Unidos, e ela perderia mais um rapaz! A cama do Fernando continuava às moscas, se calhar, também às pulgas! Eu ainda estava mais radiante do que a Dona Alice. Eu tinha ali a minha pequena registadora para os pequenos lucros do patrão, e uma grande algibeira para as minhas gorjetas bem tilintantes! Mas o melhor (ou o pior) ainda estava por vir!

Depois de ter soado a sineta a anunciar que a sessão ia começar, todos desarvoraram à cata dos seus lugares antes que a luz se apagasse, pois que na Geral não haviam arrumadores, e mal fiquei a sós com a minha tralha toda a pôr em ordem, lavar os copos, chávenas, pires, e colherezinhas das bicas (os tempos do Avis que eu não molhava as mãos para não dar cabo das unhas, eram coisas dum passado já distante!), aparece-me um polícia que me pediu “café-e-bagaço”. O café era só abrir a torneira, mas o bagaço era o cabo dos trabalhos! Pegar no garrafão e encher um pequeno copo, aquilo era realmente coisas do arco-da-velha! Eu tinha que pedir em baixo uma garrafa vazia para eu encher de bagaço! Mas... um polícia? Um uniforme? Nossa Senhora dos Pecados! E eu que andava esfaimado! Ele era um rapaz ainda muito jovem que - mais tarde vim a saber – se chamava João, que era da Beira Yalta e que tinha vindo para Lisboa para viver a sua vida longe das mentalidades tacanhas da sua aldeia, que queriam que ele casasse com a prima mais nova, que andava a família toda atrás dele, que até já tinham ido falar com o padre, que aquilo era uma verdadeira maratona, e que ele achava que ainda era muito novo para se enforcar!

Ele era muito campesino, amorenado pelo sol da sua terra, olhos muito pretos que me sorriam em inesperadas carícias... tinha uma boca que parecia duas talhadas de melancia sem pevides, ali fresca, pronta a matar a minha sede! Quando a sessão começou ele pagou e desapareceu por detrás da cortina que separava o bar da Geral.

Eu arrumei o meu bar muito rapidamente para estar pronto para o primeiro intervalo e, depois, pensei no meu belo Rui que me foi servido sobre uma bandeja e que nunca lhe fincara os dentes! Pensei com os meus botões: Aproveita rapaz! Não percas outra vez o comboio! Despacha-te! Para a frente é que é Lisboa! Agarrei no meu esfomeado corpo e vou até essa cortina que há momentos tinha engolido o meu fora da lei polícia. Os documentários e o Jornal Pathé não me interessavam, o Pedro Infante ainda menos, mas aquele raminho de flores do campo ali à espera de serem desfolhadas é que não! Eu tinha que ir ali bater à sua porta e ver se havia alguém em casa. Entreabri a cortina e ali ele estava à espera da merenda.

O mais curioso era que o bar era separado da Geral por um pequeno saguão onde, no outro lado, havia também uma outra cortina. Era pela greta que ele tinha aberto nessa outra cortina que ele via o ecrã da sala, lá em baixo. Entre essa cortina a cortina que eu acabara de entreabrir haviam para aí uns cinquenta centímetros de espaço. Entrei nessa saguão e esqueci completamente o meu bar, o meu trabalho, as minhas responsabilidades. Aconcheguei-me ao polícia e, como ele era mais alto do que eu, pus-me nos bicos dos pés para poder visualizar o ecrã por cima do seu ombro. Desequilibrei-me um bocadinho e, para não tombar, pus a minha mão direita sobre o seu ombro uma fracção de segundo. Ele virou-se um nadinha para trás para ver se era preciso sacar da pistola, mas quando me viu ali na penumbra com olhos em brasa, continuou a ver o seu Jornal. Eu, entre essas duas cortinas, estava tão próximo daquele pêssego a cair da rama, que o meu arado começou a ganhar terreno. E aquele terreno ali mesmo em frente, aquelas rústicas nádegas rijas que nem calhaus! Afastei-me um pouco para trás para não dar barraca, mas o meu Joãozinho passou a sua mão direita pelas suas nádegas e veio ao encontro daquele intruso que se colava ao seu corpo sadio. A sua mão cuidadosamente procurou conduzir o meu instrumento de lavoura a amanhar um pouco a sua terra ainda talvez por lavrar. Sem olhar uma só vez para trás, ele começou a amassar-me como se eu fosse farinha de trigo a mendigar um pouco de levedura. Como “amor, com amor se paga”, a minha mão vai à procura da sua massaroca que já estava bem madura. Descasquei-a e debulhei-a em dois minutos. Um pequeno urro mal contido e a cortina da frente apanhou com uns merendeiros a saírem ainda quentes do forno em plena fuça. Eu voltei ao bar para preparar tudo para o intervalo. O polícia nunca mais o vi nessa tarde mas, no dia seguinte...

O resto do dia correu tudo muito bem. Nove vezes nesse dia tive o meu barzinho assaltado por sedentos que vinham em busca das minhas Fantas, cervejas, e alguns cafezinhos. Nessa noite, depois do segundo intervalo, fechei o bar e o Sr. Rosa veio fazer as contas. Penso que nesse dia as minhas gorjetas tinham ultrapassado os lucros do patrão. Quando despi o casaco e tirei a gravata, transferi os meus ganhos para dentro do bolso das minhas calças, vesti o meu blusão, desci a escada, disse até amanhã aos outros no bar de baixo, e saí que nem um foguete pela porta fora. Mal pus os pés em cima desse passeio da Rua dos Condes, pu-los a caminho de casa. Sentia-me tão feliz como se me tivesse saído a sorte grande! Nem quis apanhar um eléctrico. Fui por essa Avenida da Liberdade acima até ao Marquês de Pombal, Saldanha, Avenida República, Campo Pequeno, “a assobiar baixinho o Fado da Mouraria”. Chegado a casa já estavam todos na cama, aparentemente já a dormir, pois que havia quem ressonasse um pouco em cada dependência. Deitei-me mas antes adormecer tive de deitar contas à vida. O meu polícia tinha sido bem regado, mas eu tinha ficado na seca.
Algo teria de ser feito para que certas paridades fossem respeitadas!

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire