lundi 10 août 2009

Aushwitz


Fiquei horrorizado com essa pavorosa história da Shoa! Eu não queria acreditar que tal fosse possível acontecer no mundo em que vivíamos! O livro estava crivado de fotografias abomináveis desse sofrimento, desse ultraje à dignidade desse povo.

Quando o meu pai voltou a casa e me viu em lágrimas com aquele horrível documento na minha frente, arrancou-me o livro da mão, ralhou comigo, que eu não tinha o direito de andar a rebuscar nas suas prateleiras, que aquilo não eram livros para putos da minha idade!

Olhei para o meu pai e, através das minhas lágrimas, perguntei-lhe como era possível tal coisa?

Meu pai acalmou-se. Depois esclareceu-me acerca de certas fobias, de certos fanatismos. Falou-me da Inquisição, do Nazismo, das guerras, da estupidez humana! Contou-me que quando vivíamos na Rua do Arco do Carvalhão ele trabalhava na Repartição de Finanças de Lisboa e que tinha dado tantas Visas a refugiados, Judeus fugindo ao Nazismo. Que tinha sido transferido de Lisboa para Mafra pelo facto de ter dado mais Visas do que as que estava autorizado, mas não tinha sido capaz de recusar uma Visa a uma família inteira a fugirem a essa vergonhosa perseguição, essa gente que estava ali na sua frente a pedir asilo, uma casa, um país onde pudessem sobreviver tal afronta, pois que Portugal mantivera-se fora dessa ignóbil guerra, que os Nazis tinham deixado o nosso país fora dessa diabólica loucura dum homem contra um povo inteiro!

Depois também me contou que nós também éramos de origem Judaica, dos tempos da Inquisição.

Que nesses longínquos tempos os Judeus foram obrigados a converterem-se ao Catolicismo e a renunciarem às suas tradições. Que tinham sido forçados a adoptarem nomes portugueses, e que eles tinham optado por nomes de árvores. Assim todos os portugueses com apelidos que representam nomes de árvores eram de origem Judaica. Que todos os Pereiras, Oliveiras, Silvas, Nogueiras, eram portugueses de origem Judaica. Que o seu apelido era Nogueira, da parte da sua mãe. E Carmo da parte do seu pai. Que Carmo era um nome de origem Judaica. Daí a expressão portuguesa de “cair o Carmo e a Trindade”!

Que eu esquecesse esse livro e tudo o resto, que o luto do Alberto era mais que suficiente para nos ensombrar os dias!

2 commentaires:

  1. O espírito humano tem tanto de grandioso como de ignóbil...é por esses momentos da história humana que sinto uma tristeza e vergonha atroz, por pertencer à chamada raça humana.
    Para dizer a verdade, em relação a essa postura racista, invasora, de não respeito por culturas alheias,penso que tudo se irá repetir de forma cíclica.
    A memória colectiva por vezes não produz o efeito desejado e quando nascem, em lugar de seres humanos, génios bestiais ao serviço do mal, e pior ainda, quando uma multidão irracional e cega se deixa conduzir por líderes destruidores da alma humana, a catástrofe e a tragédia ensombram as nossas acções...
    Acho que ninguém com consciência consegue contemplar essas fotos do holocausto sem sentir uma profunda angústia...

    RépondreSupprimer
  2. Eu, pessoalmente, sinto por vezes, como disseste, vergonha de ter nascido humano!
    Devia ter nascido borboleta. Parece que só vivem 24 horas e assim só vivem obelo da vida!
    Quero dizer o efémero! Mas humano ou bicho, a vida é sempre efémera! Gozemo-la enquant por se cá ada, a despeito de toda essa grandioda estupidez humana!

    RépondreSupprimer