mercredi 17 février 2010
Uma mulher foi-me ao olho!
Quando ele - esse belo jovem ginecologista - saiu do gabinete da Ameline, veio despedir-se de mim, dizendo-me até logo, no primeiro andar, para a "refracção" !
Mas certamente muito mais interessado num bom "aumento"... Esperei ainda até já não haver mais ninguém! Fui o último, uma vez mais, a ingressar nos domínios da bela Ameline! Ela fez-me um sinal com a cabeça (talvez para não gastar saliva) para que eu a seguisse. Entrei no seu gabinete, preparado para me sentar na tal cadeira frente ao canudo, mas ela impediu-me de o fazer, dizendo-me que nessa tarde ela não teria tempo para mim. Claro que, muito pouco sensato, lhe atirei que ela não tinha tempo para mim porque tinha dado o meu tempo ao seu amigo dos tempos da Universidade! Pois que ele tinha vindo sem consulta marcada e que ia submeter-se à refracção, ao passo que eu tinha esperado a manhã toda, que tinha ali o Pat que tinha faltado ao seu trabalho para me acompanhar, e isso não era justo! Ela esticou-me uma outra convocação para a semana seguinte, e virou-me as costas! O Pat ficou fulo e eu estava tão revoltado, que seria capaz de reconstruir o Muro de Berlim em dois segundos! O que ela acabava de me fazer era pura e simplesmente um abuso de poder!
Segundo a data que me tinha sido concedida para esse famoso retoque , lá estava eu uma vez mais na companhia do Pat aguardando ser chamado pela Senhora Dona Ameline para cumprir a sua tarefa! Como de costume fui o último a ser chamado. Depois das usuais verificações, mandou-me voltar ao primeiro andar às 14H30! Novamente pequena refeição num Café local, visita a uma casa de discos em busca de discos da Amália, e novamente a minha cadeira preferida, ao pé da janela, daquela minúscula sala de espera. Estavam apenas duas pessoas à minha frente. Pacientei resignadamente a minha chamada ao sacrifício! Como já era meu hábito, deitei-me naquela marquesa, e esperei até que a Ameline se decidisse a pegar dos seus utensílios para esses inesperados retoques. Durante o retoque ela palrou com os seus assistentes acerca do casamento ao qual ela tinha sido convidada no passado fim-de-semana. Desta vez ela não comentou o seu trabalho, apenas contava as peripécias desse copo de água presidido pelo Rabi Não Sei Quantos. Desta vez o Laser burilou o meu olho mais de 15 minutos. Achei estranho, mas como confiava no seu Sermão de Hipócrates, fiz-lhe confiança. Quando ela deu o seu trabalho por terminado arrancou as gazes da minha cara e pediu-me para me ir repousar o quarto ao lado.
Um tanto aturdido, agarrado às paredes, mudei-me para o quarto ao lado. Eu via pessimamente Deitei-me na outra marquesa e, ao olhar o cartaz em frente, mal conseguia ver as letras gordas! As pequeninas tinham completamente desaparecido! Fiquei alarmado, mas pensei que isso passaria gradualmente. Ao fim desses 20 minutos de repouso, a visão continuava desastrosamente perturbada. Mal Ameline entrou nesse "quarto ao lado", amedrontadamente lhe disse que, parecia-me, desta vez a intervenção não tinha resultado. Eu via mal e porcamente! A sua reacção, olhos postos no chão, alto e bom som, alegremente, foi:
- Je saaaaaaaaaaaaais! (Eu seeeeeeei!)
Como podia ela saber os resultados antes de me ter inspeccionado o olho acabado de estar 15 minutos sob o Laser? Alarmado, levantei-me e sentei-me em frente do canudo. Ela olhou-me dentro desse olho e comentou os resultados aos seus dois estagiários. Um deles estava petrificado contra a parede atrás dela, e olhava-me com uma piedade infinita, e parecia-me à beira das lágrimas! Ele chamava-se Laurent. Não sei se era o seu nome ou apelido! Não percebi quais foram os comentários, porque tudo foi exposto em termos técnicos, os quais eu ignorava totalmente o sentido. Ela disse-me friamente que o trabalho estava feito, que voltasse dentro de dois dias, ao segundo andar, para verificações. Fui para casa lavado em lágrimas! Sentado ao lado do Pat enquanto ele conduzia de regresso a casa, apercebi-me apavoradamente que eu já não conseguia ler os nomes das ruas nem ver os números das portas. Confiei ao Pat os meus temores. Pat, como sempre, reconfortou-me dizendo que isso ia passar com o tempo!
Dois dias depois voltei a carregar o esqueleto até à Ameline para, depois de todos os outros terem passado, ser chamado a sentar-me diante do maldito canudo! Enquanto Ameline olhava para dentro meu olho e tomava apontamentos sobre o meu "dossier", anotando o que muito mais lhe convinha, repentinamente uma outra médica, como uma aparição, pediu licença à Ameline para deitar uma vista de olhos ao meu olho. Amelina cedeu-lhe o seu lugar, e essa senhora começou judiciosamente a espiolhar o meu olho. Depois de ter tudo muito bem vistoriado, voltou-se para a Ameline e disse-lhe autoritariamente:
- Ameline! O problema com o olho esquerdo do senhor Carmo " é que ele esteve demasiado tempo exposto ao Laser!
A senhora, da mesma maneira como apareceu desapareceu! Ameline retoma as suas rédeas e depois de pretender que estava a fazer o seu trabalho, disse-me que iríamos tentar mais um retoque, mas que não acreditava muito, pois que os resultados do prévio retoque eram irreparáveis! Depois enviou-me ao quarto ao lado para me dar outra data para essa nova tentativa! Nesse escritório, enquanto aguardava a decisão da senhora que procurava datas disponíveis sobre sobre o ecrã do seu computador, como ela tinha passado no gabinete da Ameline enquanto a outra médica inspeccionava o meu olho, perguntei-lhe quem era essa senhora que tinha vindo verificar o trabalho da Ameline sobre o meu olho esquerdo. Ela, sem tirar os olhos do ecrã, disse indiferentemente:
- Foi a responsável do Serviço, a Dra. Leroux Les Jardins!
Na data que essa senhora me deu para esse segundo retoque, voltei às mãos da Ameline, no primeiro andar.
Depois de alguns segundos de Laser, ela secamente me informou que não podia fazer mais nada. Que o problema era irreparável! Meses depois procurei a morada dessa outra doutora, para uma consulta privada em sua casa. Essa senhora, depois do obrigatório canudo, fez-me uma receita para fazer óculos para ver ao longe e outros para ver de perto. Quando, discretamente, lhe disse que a Amelina me tinha deixado sob o Laser demasiado tempo, que tinha sido de propósito, para se vingar. E contei-lhe tudo acerca das nossas disputas! Dra. Leroux Les Jardins soergueu os olhos dos seus papéis e disse-me que eu não devia estar bom da cabeça! Que essas coisas não se faziam! Não se faziam mas foram feitas! E agora aqui estou eu a escrever à pressa as minhas memórias, antes que os meus olhos se fechem para todo o sempre! Algumas vezes me passou pela cabeça fazer justiça com as minhas próprias mãos mas, ao pensar que ela iria direitinho ao céu e eu à prisão, mandei tudo, como se diz em Português da rua, "pó caralho"!
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Alô "Tudo em Pratos Limpos" passei por aqui via "Esperança", gostei muito do que li, voltarei...
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