dimanche 7 février 2010

Das Clínicas a um Grande Hospital



Apanhei o Metro para ir até ao hospital ver esse professor que me tinha sido recomendado. O problema subsistia e quase todos os quartos de hora tinha de urinar. Quando ia algures de carro, não era problema. Parava numa ravina e dava largas aos meus desalentos! Mas numa carruagem de Metro não me dava ao desplante de sacar uma garrafa vazia do meu bolso, para aliviar a bexiga! Nem mesmo nas horas de ponta!

Chegado a esse hospital que visitava pela primeira vez, senti-me mais à vontade! Para começar havia urinóis por toda a parte! Depois de me ter apresentado à enfermeira-chefe com a minha carta, ela pediu-me os meus documentos e preencheu uma daquelas folhas que entram no mais recôndito da nossa intimidade. Para começar, a idade! Quando, a medo, lhe disse a minha idade ela, muito surpreendida, levantou os olhos do papel, olhou-me uns momentos e muito elogiosamente afirmou:

- Está muito bem conservado para a sua idade!

Mas o que ela não sabia era que a minha bexiga começava a mostrar a sua!

***

Depois duma meia hora na sala de espera, tendo visitado duas vezes aquela pia que me sorria sempre que por lá passava, finalmente fui chamado ao gabinete do Professor. Esse professor era um homem ainda bastante jovem e bem encarado para a sua posição. A minha posição é que começou a ficar um tanto desconfortável quando ele, depois de ter lido a carta, me pediu para me despir da cintura para baixo e deitar-me naquela mais uma marquesa. Fui novamente assaltado daquele terror que me faz tremer da cabeça aos pés quando o vi começar a preparar aquele tubinho que me parecia muito ansioso de me penetrar. Mas pela uretra! Certamente mais outra sessão de sadomasoquismo! A sua assistente amparava o meu indefeso órgão enquanto o Professor apontava para atirar. Fechei os olhos e prometi a mim mesmo que essa seria a última vez! Eu não alinho muito nessas experiências de depravados sexuais. Porém ele, lentamente, começou a fazer a sua viagem através da minha uretra, na direcção da minha próstata. Ele era realmente muito carinhoso e falava-me ternamente das suas pesquisas dentro de mim. Isso acalenta bastante as vítimas de certas intervenções cirúrgicas sem anestesia! Os resultados eram sempre negativos, nada de assinalar. Às tantas ele disse-me que ia fazer um bocadinho doer, mas que seria rápido! E muito rapidamente me apercebi que aquilo não era nenhuma prenda de Natal! Às tantas ele disse-me que estava tudo muito bem mas que a próstata é que estava numa lástima, que ia ser preciso operar-me o mais rapidamente possível! Depois desenfiou o tubo, descalçou as suas luvas de borracha, desmascarou-se, e foi sentar-se à sua secretária na pequena dependência contígua, e convidou-me a segui-lo!

Sentado na sua frente, enquanto ele folheava a sua agenda em busca duma data a propor-me para essa dita urgente intervenção, eu fazia as minhas preces para que toda aquela história acabasse airosamente. Ele estacou uns momentos sobre uma das páginas da sua agenda e, fixando-me interrogativamente, sugeriu-me uma determinada data, que aceitei sem pestanejar. Eu, além das correrias para a pia para fazer a vontade à minha bexiga, estava totalmente disponível pelos anos que me restassem. Ele preencheu uma folha e estendeu-me a cópia que estava por baixo. Nessa cópia tinha a data, mais uma série de análises que teriam de ser feitas antes de ser internado. Depois informou-me dos efeitos secundários dessa raspagem à próstata. Que depois da operação eu ficaria a ter o problema de ejaculação retrógrada, e que, eventualmente, com os anos, a impotência! No meu constante desejo de gozar com as minhas próprias misérias, disse-lhe que isso seria terrível, pois que o meu ganha-pão era actuar em filmes pornográficos, e que isso ia desgraçar a minha carreira! Ele, divertido, olhou-me sorridentemente e disse-me que ou eu teria de mudar de profissão ou mudar de próstata!

Depois, muito seriamente, perguntou-me onde tinha eu feito todas aquelas raspagens à bexiga, que a bexiga estava na ponta da unha! Respondi-lhe que tinham sido feitas em três diferentes clínicas Uma em Ivry sur Seine, outra em Clamart, e a outra algures, nos arredores de Paris. Ele olhou-me embaraçadamente e disse-me algo que tanto me chocou que enquanto eu for vivo jamais me passará da memória!

- Senhor Carmo! Na região de Paris há centenas e centenas de clínicas! Cada clínica tem 30/40 camas! E essas camas têm de ser preenchidas, senão é a bancarrota e essas clínicas têm de fechar a porta! Deixe-se de clínicas! Procure sempre um hospital do Estado, coberto pela Segurança Social! Que nos hospitais eu não tinha que pagar o quarto nem despesas suplementares além da televisão!
Eu não ousei dizer-lhe o que me ia na alma ! Sobretudo na cabeça! Senti uma revolta imensa! Por momentos senti vergonha, nojo, de ser humano! Penso que ele se apercebeu do que se passava na minha mente, pois que, a fechar, disse-me que havia demasiados médicos e cirurgiões em Paris, que nenhum deles queria trabalhar na província, pois que em Paris é que se fazia muito dinheiro! Que a maioria desses médicos e cirurgiões não tinham optado por essas profissões por vocação, mas sim que tinham sido forçados pelos seus pais, que queriam oferecer um bom futuro aos seus rebentos, pois que nessas ocupações se ganha muito dinheiro! Senti vontade de vomitar e pensei em alguém que tinha dito algures muitas verdades acerca dessa casta de castiços que só pensam em castiçais!

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