mardi 16 février 2010
Podres Abusos de Poder
Uma manhã, como habitualmente todos os anos, fui ao melhor hospital do mundo de oftalmologia para fazer a minha anual inspecção dos lhos com o Dr. Larricart, esse maravilhoso homem que, já lá iam 30 anos, tomava conta dos meus olhos. Ele era um homem que eu admirava pela sua competência e amizade pois que, como lhe dissera um dia, depois de trinta anos de cumplicidade, nós tínhamos envelhecido juntos! Eu sabia o seu nome de cor porque só tinha um oftalmologista, mas ele também sabia o meu, e eu era apenas um das muitas centenas dos seus pacientes. Ele era um homem que ao passar mim na rua me cumprimentava dizendo-me "bom dia senhor Carmo"!
Ele operou-me do olho esquerdo duma catarata, mas como esse meu olho não era normal - tinha a retina muito próxima da córnea - ele receou fazer um implante de lentilha artificial, e deu-me óculos para fazer a correcção. Anos mais tarde operou-me doutra catarata, desta vez do olho direito. Desta vez implantou-me uma lentilha, e os resultados foram surpreendentes! Como, entretanto, os progressos tecnológicos da oftalmologia tinham avançado espectacularmente, ele pediu-me para ir consultar um outro oftalmologista desse mesmo hospital, o Dr. Werthel, com uma carta a pedir-lhe para ele examinar o meu olho esquerdo para ver se seria possível ele submeter-me algo de novo de que ele era o especialista. Dr. Werthel, depois de me ter observado longamente, disse-me que essa intervenção também, pela proximidade da retina à córnea, seria bastante arriscada! Aconselhou-me ir ver a Dra. Ameline - também desse mesmo hospital - para ver se seria possível fazer uma refracção de miopia desse mesmo olho. Ao sair das suas mãos fui imediatamente ao guichet onde se encomendavam as consultas e pedi uma data para essa senhora, a Dra. Ameline!
Na data obtida para a primeira consulta com a Ameline, ansiosamente, pus os pés a caminho para estar a tempo e horas para conhecer essa senhora que me ia fazer essa refracção de miopia. Corri até ao segundo andar, para onde me tinham indicado ser o seu consultório. Como tinha a minha convocação com a hora marcada, sentei-me e aguardei a minha vez. Estavam lá meia dúzia de pessoas que tinham chegado antes de mim. Às tantas, uma bonita mulher veio à porta chamar o seu próximo paciente, chamando-o pelo seu nome. Fiquei encantado! Ela além de ser talvez a pessoa que me ia ajudar a recuperar a vista do meu olho esquerdo, ainda por cima era uma mulher muito atraente!
Quando chegou a minha vez, foi alvoroçadamente que me pus naquelas suas bonitas pequenas mãos milagrosas. Sentei-me frente àquele canudo pelo qual temos de espreitar. Ameline, depois de ter consultado o meu "dossier", sentou-se do outro lado, espreitando pelo outro lado do canudo, e começou a relatar-me o problema desse meu olho. Que era muito míope, mas que iria ser possível corrigir o problema! Que viesse no dia seguinte, dia 2 de Fevereiro, o meu aniversário, dia de festejar ou lamentar os meus 70 anos! Mas que viesse acompanhado, porque depois da intervenção eu ficaria com problemas de visão! Fui para casa a correr para fazer as minhas obrigações caseiras e, antes de mais nada, telefonei ao Pat, para ver se ele poderia estar livre no outro dia de manhã para me acompanhar ao hospital, para essa para mim tão importante intervenção!
Na manhã seguinte, depois dum rápido pequeno-almoço com o Pat, lá pegámos no carro e fomos até essa Rue Charenton, ali à Bastilha, para essa tão importante intervenção! Depois da chamada ao seu consultório, logo após um segundo estudo do meu olho, ela pede-me para estar de volta às 14H30, no primeiro andar, para ser então submetido a essa intervenção à base de Laser! Pat ficou furioso, pois que só tinha tirado a manhã! Fomos a um Café ali na Bastilha tomar uma bebida e telefonar para o O.E.C.D., a prevenir que ele não podia voltar da parte da tarde! Depois demos uma passeata, vimos as montras, e à hora requerida lá estávamos ambos nesse primeiro andar, onde se encontrava todos esses apetrechos para essa intervenção ao Laser! Enquanto esperávamos, como sou muito comunicativo, encetei uma conversa com uma senhora que lá estava com a sua filha, uma miúda dos seus 16 anos, que estava previsto de passar antes de mim! Depois dessa intervenção foi a minha vez!
Nesse pequeno bloco operatório, primeiro tive de me sentar em frente desse canudo para a Ameline, penso, tirar as medidas, ou fosse lá o que fosse! Depois deitaram-me na marquesa, cobriram-me a cara com umas gases, e logo Ameline começou o seu milagroso trabalho com o seu Laser. A operação durou uns 10 minutos. Depois pediram-me para me ir repousar sobre uma outra marquesa no quarto contíguo, a descansar uns 20 minutos, para depois ser observado para ver os resultados da refracção. Enquanto aguardava, surpreendidíssimo e felicíssimo, apercebi-me que eu podia ver lindamente! Num cartaz mesmo em frente, ali especado na parede, eu podia ler as letras miudinhas. Eu nunca tinha visto assim tão bem em tida a minha vida!
Ameline, esses 20 minutos passados, depois de ter terminado outra intervenção noutro paciente, veio ver-me sobre a minha marquesa. Pediu-me que me levantasse e que me sentasse ali em frente do tal canudo. Imediatamente ela relatou-me como se tinham passado as coisas. Que tudo tinha decorrido muito bem, que ia ver tudo um tanto turvo durante uns dias. Que voltasse dentro de dois dias para ver o andamento das coisas!
Pat, antes de voltar para o OECD, foi-me pôr a casa e, enquanto ele conduzia, eu via Paris tão nítida pela primeira vez! Eu estava contentíssimo. Eu podia até ler os nomes das ruas, os números das portas, e as placas do carro em frente do nosso! Fechei os olhos durante uns segundos, e sem que o Pat se apercebesse, agradeci a Deus aquele fabuloso milagre! Chegado a casa deitei-me para descansar um pouco, e nessa noite, para celebrar, fomos jantar a um restaurante italiano, ali mesmo à esquina da nossa rua!
Depois, durante todo esse mês, tive de voltar ao hospital para que Ameline seguisse as reacções do meu olho. Cada vez era sempre o mesmo problema. Eu chegava com a minha convocação para as 10H15 e era sempre o último a ser chamado! Mesmo aqueles que tinham convocações para o meio-dia passavam antes de mim! Nessa última consulta disse abertamente à Ameline que ela deveria respeitar os horários e não os seus preferidos serem contemplados com sua generosidade! Ela ficou fula e disse-me que "chez-elle" ela fazia o que muito bem lhe apetecia! Respondi-lhe que, "chez-elle", na sua casa, achava muito bem, mas que ali, no hospital, não era a sua casa, mas sim o seu local de trabalho! Que ela devia respeitar as suas obrigações profissionais! Isto dito e feito, ela pediu-me para me sentar diante do seu "canudo" e, dois minutos depois, declarou que o meu olho precisava dum retoque. Agarrou numa folha e deu-me outra data para esse referido retoque. Tomando em consideração que Ameline tinha assinado o "Sermão de Hipócrates", fiz-lhe confiança e aceitei a proposta!
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