jeudi 4 mars 2010

Saudades imensas do microfone



Depois desta abominável agressão da Ameline e indiferença do Hospital Quinze-Vingts, da desprezível apatia da Justiça, dos Ministérios e Imprensa, reduzido a quase nada depois de tantas raspagens inúteis para mim, mas muito rentáveis para os cirurgiões que apenas se preocupam em preencher camas nas clínicas onde operam, e dos "dépassements d'Honoraires" de que são peritos, para aumentar os seus ganhos diários sem demasiado mexerem o cu, resolvi pôr pedra no assunto e viver o que me restava de existência o melhor possível, tomando em consideração que eu estava reduzido aos restos mortais de quem eu tinha até então sido ! Aprendi a viver com os meus insultos à dignidade masculina, como as ejaculações retrógradas e ameaças de impotência, devido àquela raspagem da próstata que me resolvera problemas físicos e criado novos e graves problemas psicológicos ! Continuar a minha vida rindo de mim e daqueles que de mim se riem! E é precisamente o que foi a minha vida até ao dia em que, exausto de não ser mais ninguém, farto de viver num apartamento que me custava os olhos da cara, decidimos mudar de casa, pois que cada vez que mudo de casa eu principio uma nova vida. Novos projectos, novas perspectivas, novas crenças no futuro!

Assim, uma bela manhã, fomos até Créteil em busca dum apartamento. Entretanto, depois dos repugnantes acordos entre os Bancos e as Agência Imobiliárias, essas nojentas manigâncias dos Bancos para encherem ainda mais as suas caixas com as economias dos outros, de obrigar as pessoas a comprarem casa, e assim nos vermos forçadas a pedir empréstimos a esses elos dessa nefasta corrente que nos enforca ! As Agências concordaram em não alugar casas, e apenas terem a propor casas para vender. Negócios abjectos entre monopolizadores que devoram tudo à sua passagem, sem dó nem piedade pelos outros! Apenas os lucros eram, foram, e sempre serão, de maior importância! Uma espécie de obsessão, de grave doença mortal, pela eterna ambição de ficarem todos os dias um pouco ou, de preferência, muito mais ricos e poderosos, para se vingarem de certas humilhações sofridas num já distante passado, do qual, agora, nós não temos culpa alguma!

A caminho de Créteil, em busca de casa, repentinamente me veio à ideia de dar um salto a Valenton, onde a Alfa se encontra instalada! Uma feroz saudade dos meus belos tempos frente a um microfone se apoderou de mim! Esses tempos em que eu, ao aperceber-me que, por detrás desse microfone se encontravam milhares de pessoas à escuta, que eu entrava em casa deles para lhes fazer companhia, estar com eles, trazer-lhes a minha grande vontade de os relembrar que o Português era a nossa língua materna, e acabar com essas misturas de Português e Francês, que resultou nessa extravagante linguagem que crismaram de "Imigrês"!

Depois de termos visitado todas as Agências Imobiliárias da cidade, chegámos à conclusão que era tempo perdido. Só casas e apartamentos à venda! Nada de aluguer! De regresso a casa, passámos por Valenton. Não resisti à tentação de ir embebedar os olhos naquela imensa fachada da minha Alfa. Ao mesmo tempo, talvez também fazer uma fotografia como recordação. Pat arrumou o carro dentro do "parking" da Alfa e eu saí do carro para, muito discretamente, fazer uma foto ou duas. Sobretudo eu não queria que ninguém notasse que eu tinha ali voltado sem ter sido convidado. Por acaso, o Paulo, um dos meus antigos colegas, estava a fumar um cigarro à porta, reconheceu-me ! Fez-me sinal para que eu me aproximasse. Hesitei, mas ele tanto insistiu que não resisti ao desejo enorme de lhe dar um grande abraço e talvez, discretamente, acariciar aquela parede contra a qual ele se apoiava. Depois desse curto abraço Paulo convidou-me a subir para me mostrar os progressos tecnológicos que a radio tinha sofrido e, ao mesmo tempo, dar um abraço à "malta"! Como uma donzela virgem com medo de ser violada, resisti, mas bem no fundo eu estava morto por subir e perder de novo a virginade e matar saudades de tudo e de todos.

Galguei as escadas a quatro e quatro, tão ansioso estava de rever os meus domínios de outros tempos! De rever a malta toda! Logo à entrada verifiquei que tinham havido muitas modificações! A pequena dependência que tinha sido o meu escritório com a Cássia, era agora uma pequena cabine de som, e a grande dependência mesmo ao lado, que outrora fora o espaçoso escritório da doutora, era agora um estúdio com uma grande mesa oval com muitos microfones à volta, para quando, deduzi, tivessem muitos convidados a fazerem algum muito importante debate! A primeira pessoa que procurei ver, foi o Fernando! E ele lá estava no seu pequeno mundo de computadores. Ao ver-me ele abriu-me os braços, e era evidente a alegria que ele sentiu ao ver-me, depois de 12 anos de separação. O Artur, ao topar-me, deu-me um abraço tão apertado que quase me quebrou o esqueleto! Depois vieram caras novas que nunca tinha visto antes!

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