mercredi 17 février 2010
Uma mulher foi-me ao olho!
Quando ele - esse belo jovem ginecologista - saiu do gabinete da Ameline, veio despedir-se de mim, dizendo-me até logo, no primeiro andar, para a "refracção" !
Mas certamente muito mais interessado num bom "aumento"... Esperei ainda até já não haver mais ninguém! Fui o último, uma vez mais, a ingressar nos domínios da bela Ameline! Ela fez-me um sinal com a cabeça (talvez para não gastar saliva) para que eu a seguisse. Entrei no seu gabinete, preparado para me sentar na tal cadeira frente ao canudo, mas ela impediu-me de o fazer, dizendo-me que nessa tarde ela não teria tempo para mim. Claro que, muito pouco sensato, lhe atirei que ela não tinha tempo para mim porque tinha dado o meu tempo ao seu amigo dos tempos da Universidade! Pois que ele tinha vindo sem consulta marcada e que ia submeter-se à refracção, ao passo que eu tinha esperado a manhã toda, que tinha ali o Pat que tinha faltado ao seu trabalho para me acompanhar, e isso não era justo! Ela esticou-me uma outra convocação para a semana seguinte, e virou-me as costas! O Pat ficou fulo e eu estava tão revoltado, que seria capaz de reconstruir o Muro de Berlim em dois segundos! O que ela acabava de me fazer era pura e simplesmente um abuso de poder!
Segundo a data que me tinha sido concedida para esse famoso retoque , lá estava eu uma vez mais na companhia do Pat aguardando ser chamado pela Senhora Dona Ameline para cumprir a sua tarefa! Como de costume fui o último a ser chamado. Depois das usuais verificações, mandou-me voltar ao primeiro andar às 14H30! Novamente pequena refeição num Café local, visita a uma casa de discos em busca de discos da Amália, e novamente a minha cadeira preferida, ao pé da janela, daquela minúscula sala de espera. Estavam apenas duas pessoas à minha frente. Pacientei resignadamente a minha chamada ao sacrifício! Como já era meu hábito, deitei-me naquela marquesa, e esperei até que a Ameline se decidisse a pegar dos seus utensílios para esses inesperados retoques. Durante o retoque ela palrou com os seus assistentes acerca do casamento ao qual ela tinha sido convidada no passado fim-de-semana. Desta vez ela não comentou o seu trabalho, apenas contava as peripécias desse copo de água presidido pelo Rabi Não Sei Quantos. Desta vez o Laser burilou o meu olho mais de 15 minutos. Achei estranho, mas como confiava no seu Sermão de Hipócrates, fiz-lhe confiança. Quando ela deu o seu trabalho por terminado arrancou as gazes da minha cara e pediu-me para me ir repousar o quarto ao lado.
Um tanto aturdido, agarrado às paredes, mudei-me para o quarto ao lado. Eu via pessimamente Deitei-me na outra marquesa e, ao olhar o cartaz em frente, mal conseguia ver as letras gordas! As pequeninas tinham completamente desaparecido! Fiquei alarmado, mas pensei que isso passaria gradualmente. Ao fim desses 20 minutos de repouso, a visão continuava desastrosamente perturbada. Mal Ameline entrou nesse "quarto ao lado", amedrontadamente lhe disse que, parecia-me, desta vez a intervenção não tinha resultado. Eu via mal e porcamente! A sua reacção, olhos postos no chão, alto e bom som, alegremente, foi:
- Je saaaaaaaaaaaaais! (Eu seeeeeeei!)
Como podia ela saber os resultados antes de me ter inspeccionado o olho acabado de estar 15 minutos sob o Laser? Alarmado, levantei-me e sentei-me em frente do canudo. Ela olhou-me dentro desse olho e comentou os resultados aos seus dois estagiários. Um deles estava petrificado contra a parede atrás dela, e olhava-me com uma piedade infinita, e parecia-me à beira das lágrimas! Ele chamava-se Laurent. Não sei se era o seu nome ou apelido! Não percebi quais foram os comentários, porque tudo foi exposto em termos técnicos, os quais eu ignorava totalmente o sentido. Ela disse-me friamente que o trabalho estava feito, que voltasse dentro de dois dias, ao segundo andar, para verificações. Fui para casa lavado em lágrimas! Sentado ao lado do Pat enquanto ele conduzia de regresso a casa, apercebi-me apavoradamente que eu já não conseguia ler os nomes das ruas nem ver os números das portas. Confiei ao Pat os meus temores. Pat, como sempre, reconfortou-me dizendo que isso ia passar com o tempo!
Dois dias depois voltei a carregar o esqueleto até à Ameline para, depois de todos os outros terem passado, ser chamado a sentar-me diante do maldito canudo! Enquanto Ameline olhava para dentro meu olho e tomava apontamentos sobre o meu "dossier", anotando o que muito mais lhe convinha, repentinamente uma outra médica, como uma aparição, pediu licença à Ameline para deitar uma vista de olhos ao meu olho. Amelina cedeu-lhe o seu lugar, e essa senhora começou judiciosamente a espiolhar o meu olho. Depois de ter tudo muito bem vistoriado, voltou-se para a Ameline e disse-lhe autoritariamente:
- Ameline! O problema com o olho esquerdo do senhor Carmo " é que ele esteve demasiado tempo exposto ao Laser!
A senhora, da mesma maneira como apareceu desapareceu! Ameline retoma as suas rédeas e depois de pretender que estava a fazer o seu trabalho, disse-me que iríamos tentar mais um retoque, mas que não acreditava muito, pois que os resultados do prévio retoque eram irreparáveis! Depois enviou-me ao quarto ao lado para me dar outra data para essa nova tentativa! Nesse escritório, enquanto aguardava a decisão da senhora que procurava datas disponíveis sobre sobre o ecrã do seu computador, como ela tinha passado no gabinete da Ameline enquanto a outra médica inspeccionava o meu olho, perguntei-lhe quem era essa senhora que tinha vindo verificar o trabalho da Ameline sobre o meu olho esquerdo. Ela, sem tirar os olhos do ecrã, disse indiferentemente:
- Foi a responsável do Serviço, a Dra. Leroux Les Jardins!
Na data que essa senhora me deu para esse segundo retoque, voltei às mãos da Ameline, no primeiro andar.
Depois de alguns segundos de Laser, ela secamente me informou que não podia fazer mais nada. Que o problema era irreparável! Meses depois procurei a morada dessa outra doutora, para uma consulta privada em sua casa. Essa senhora, depois do obrigatório canudo, fez-me uma receita para fazer óculos para ver ao longe e outros para ver de perto. Quando, discretamente, lhe disse que a Amelina me tinha deixado sob o Laser demasiado tempo, que tinha sido de propósito, para se vingar. E contei-lhe tudo acerca das nossas disputas! Dra. Leroux Les Jardins soergueu os olhos dos seus papéis e disse-me que eu não devia estar bom da cabeça! Que essas coisas não se faziam! Não se faziam mas foram feitas! E agora aqui estou eu a escrever à pressa as minhas memórias, antes que os meus olhos se fechem para todo o sempre! Algumas vezes me passou pela cabeça fazer justiça com as minhas próprias mãos mas, ao pensar que ela iria direitinho ao céu e eu à prisão, mandei tudo, como se diz em Português da rua, "pó caralho"!
Essas Longas Esperas no Tempo
Chegada essa data, novamente o Pat teve de ausentar-se das suas "obrigações profissionais" para me acompanhar ao hospital para esse famoso retoque! Enquanto aguardava a minha vez, quero com isto dizer, até que a Ameline muito bem entendesse vir à sua porta e apregoar o meu nome, reparei num belo jovem que, com o seu computador portátil sobre os joelhos, me parecia muito ocupado com os seus estudos. Ele era, claro, um rapaz de pequena estatura, cabeça coberta de loiros caracóis, olhos muito azuis e penetrantes, um sorriso de acordar a Bela Adormecida, que me deu ganas de o apertar contra o o peito, esmagá-lo entre os meus braços, até que da sua boca brotassem palavras escaldantes de amor e desejo! Fechar-lhe aqueles olhos azuis com um imenso e longo beijo sobre aquela boca vermelha e carnuda! Um delírio! Eu que me tinha divorciado dessas coisas, que, como Greta Garbo, me tinha retirado sob os meus óculos escuros e o meu sorriso enigmático!
Como sou muito comunicativo, rapidamente o abordei. Perguntei-lhe se esses computadores portáteis funcionavam à base pilhas. Ele olhou-me uns segundos nos olhos e murmurou :
- Que voz! Você devia trabalhar numa rádio! Essa voz é um desperdício apenas nos meus tímpanos!
Bem, engoli em seco, fiquei um tanto perturbado, pois que o meu corpo também acabara de ressuscitar do seu túmulo, sacudindo-se das suas cinzas!
Uma conversa muito íntima se estabeleceu entre ambos. Vim a saber que, a despeito dos seus ares de adolescente, era casado e tinha dois filhos. Que era médico, especializado em ginecologia! Ao saber da sua especialidade, cinicamente lhe sussurrei que ele era um oportunista! Tratar da saúde das mulheres... Ele sorriu e martelou :
- De mulheres e não só!
A desviar o meu embaraço e medo de cair de novo em antigas e pérfidas tentações, disse-lhe que Ameline era uma bela mulher, e muito "prestável"... Ele concordou! Que tinha feito os seus estudos com ela, na mesma Universidade, que tinha vindo apenas fazer-lhe uma pergunta acerca dos seus olhos, e que, mesmo sem ter consulta marcada, ela lhe tinha proposto fazer-lhe uma fracção de miopia nesse mesmo dia! Uma jóia de rapariga!
Nesse mesmo instante Ameline pôs o nariz fora da sua porta e chamou-o! Ele fechou o seu computador, ergueu-se, e ao afastar-se na direcção de Ameline, atirou-me uma olhadela de esguelha e, quando suavemente se afastava, as suas roliças nádegas, como num perverso sorriso, ondularam lascivamente ante os meus olhos embevecidos, mas temerosos de novamente tombarem nas minhas luxúrias incontroláveis de outras eras!
mardi 16 février 2010
Podres Abusos de Poder
Uma manhã, como habitualmente todos os anos, fui ao melhor hospital do mundo de oftalmologia para fazer a minha anual inspecção dos lhos com o Dr. Larricart, esse maravilhoso homem que, já lá iam 30 anos, tomava conta dos meus olhos. Ele era um homem que eu admirava pela sua competência e amizade pois que, como lhe dissera um dia, depois de trinta anos de cumplicidade, nós tínhamos envelhecido juntos! Eu sabia o seu nome de cor porque só tinha um oftalmologista, mas ele também sabia o meu, e eu era apenas um das muitas centenas dos seus pacientes. Ele era um homem que ao passar mim na rua me cumprimentava dizendo-me "bom dia senhor Carmo"!
Ele operou-me do olho esquerdo duma catarata, mas como esse meu olho não era normal - tinha a retina muito próxima da córnea - ele receou fazer um implante de lentilha artificial, e deu-me óculos para fazer a correcção. Anos mais tarde operou-me doutra catarata, desta vez do olho direito. Desta vez implantou-me uma lentilha, e os resultados foram surpreendentes! Como, entretanto, os progressos tecnológicos da oftalmologia tinham avançado espectacularmente, ele pediu-me para ir consultar um outro oftalmologista desse mesmo hospital, o Dr. Werthel, com uma carta a pedir-lhe para ele examinar o meu olho esquerdo para ver se seria possível ele submeter-me algo de novo de que ele era o especialista. Dr. Werthel, depois de me ter observado longamente, disse-me que essa intervenção também, pela proximidade da retina à córnea, seria bastante arriscada! Aconselhou-me ir ver a Dra. Ameline - também desse mesmo hospital - para ver se seria possível fazer uma refracção de miopia desse mesmo olho. Ao sair das suas mãos fui imediatamente ao guichet onde se encomendavam as consultas e pedi uma data para essa senhora, a Dra. Ameline!
Na data obtida para a primeira consulta com a Ameline, ansiosamente, pus os pés a caminho para estar a tempo e horas para conhecer essa senhora que me ia fazer essa refracção de miopia. Corri até ao segundo andar, para onde me tinham indicado ser o seu consultório. Como tinha a minha convocação com a hora marcada, sentei-me e aguardei a minha vez. Estavam lá meia dúzia de pessoas que tinham chegado antes de mim. Às tantas, uma bonita mulher veio à porta chamar o seu próximo paciente, chamando-o pelo seu nome. Fiquei encantado! Ela além de ser talvez a pessoa que me ia ajudar a recuperar a vista do meu olho esquerdo, ainda por cima era uma mulher muito atraente!
Quando chegou a minha vez, foi alvoroçadamente que me pus naquelas suas bonitas pequenas mãos milagrosas. Sentei-me frente àquele canudo pelo qual temos de espreitar. Ameline, depois de ter consultado o meu "dossier", sentou-se do outro lado, espreitando pelo outro lado do canudo, e começou a relatar-me o problema desse meu olho. Que era muito míope, mas que iria ser possível corrigir o problema! Que viesse no dia seguinte, dia 2 de Fevereiro, o meu aniversário, dia de festejar ou lamentar os meus 70 anos! Mas que viesse acompanhado, porque depois da intervenção eu ficaria com problemas de visão! Fui para casa a correr para fazer as minhas obrigações caseiras e, antes de mais nada, telefonei ao Pat, para ver se ele poderia estar livre no outro dia de manhã para me acompanhar ao hospital, para essa para mim tão importante intervenção!
Na manhã seguinte, depois dum rápido pequeno-almoço com o Pat, lá pegámos no carro e fomos até essa Rue Charenton, ali à Bastilha, para essa tão importante intervenção! Depois da chamada ao seu consultório, logo após um segundo estudo do meu olho, ela pede-me para estar de volta às 14H30, no primeiro andar, para ser então submetido a essa intervenção à base de Laser! Pat ficou furioso, pois que só tinha tirado a manhã! Fomos a um Café ali na Bastilha tomar uma bebida e telefonar para o O.E.C.D., a prevenir que ele não podia voltar da parte da tarde! Depois demos uma passeata, vimos as montras, e à hora requerida lá estávamos ambos nesse primeiro andar, onde se encontrava todos esses apetrechos para essa intervenção ao Laser! Enquanto esperávamos, como sou muito comunicativo, encetei uma conversa com uma senhora que lá estava com a sua filha, uma miúda dos seus 16 anos, que estava previsto de passar antes de mim! Depois dessa intervenção foi a minha vez!
Nesse pequeno bloco operatório, primeiro tive de me sentar em frente desse canudo para a Ameline, penso, tirar as medidas, ou fosse lá o que fosse! Depois deitaram-me na marquesa, cobriram-me a cara com umas gases, e logo Ameline começou o seu milagroso trabalho com o seu Laser. A operação durou uns 10 minutos. Depois pediram-me para me ir repousar sobre uma outra marquesa no quarto contíguo, a descansar uns 20 minutos, para depois ser observado para ver os resultados da refracção. Enquanto aguardava, surpreendidíssimo e felicíssimo, apercebi-me que eu podia ver lindamente! Num cartaz mesmo em frente, ali especado na parede, eu podia ler as letras miudinhas. Eu nunca tinha visto assim tão bem em tida a minha vida!
Ameline, esses 20 minutos passados, depois de ter terminado outra intervenção noutro paciente, veio ver-me sobre a minha marquesa. Pediu-me que me levantasse e que me sentasse ali em frente do tal canudo. Imediatamente ela relatou-me como se tinham passado as coisas. Que tudo tinha decorrido muito bem, que ia ver tudo um tanto turvo durante uns dias. Que voltasse dentro de dois dias para ver o andamento das coisas!
Pat, antes de voltar para o OECD, foi-me pôr a casa e, enquanto ele conduzia, eu via Paris tão nítida pela primeira vez! Eu estava contentíssimo. Eu podia até ler os nomes das ruas, os números das portas, e as placas do carro em frente do nosso! Fechei os olhos durante uns segundos, e sem que o Pat se apercebesse, agradeci a Deus aquele fabuloso milagre! Chegado a casa deitei-me para descansar um pouco, e nessa noite, para celebrar, fomos jantar a um restaurante italiano, ali mesmo à esquina da nossa rua!
Depois, durante todo esse mês, tive de voltar ao hospital para que Ameline seguisse as reacções do meu olho. Cada vez era sempre o mesmo problema. Eu chegava com a minha convocação para as 10H15 e era sempre o último a ser chamado! Mesmo aqueles que tinham convocações para o meio-dia passavam antes de mim! Nessa última consulta disse abertamente à Ameline que ela deveria respeitar os horários e não os seus preferidos serem contemplados com sua generosidade! Ela ficou fula e disse-me que "chez-elle" ela fazia o que muito bem lhe apetecia! Respondi-lhe que, "chez-elle", na sua casa, achava muito bem, mas que ali, no hospital, não era a sua casa, mas sim o seu local de trabalho! Que ela devia respeitar as suas obrigações profissionais! Isto dito e feito, ela pediu-me para me sentar diante do seu "canudo" e, dois minutos depois, declarou que o meu olho precisava dum retoque. Agarrou numa folha e deu-me outra data para esse referido retoque. Tomando em consideração que Ameline tinha assinado o "Sermão de Hipócrates", fiz-lhe confiança e aceitei a proposta!
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dimanche 7 février 2010
Das Clínicas a um Grande Hospital
Apanhei o Metro para ir até ao hospital ver esse professor que me tinha sido recomendado. O problema subsistia e quase todos os quartos de hora tinha de urinar. Quando ia algures de carro, não era problema. Parava numa ravina e dava largas aos meus desalentos! Mas numa carruagem de Metro não me dava ao desplante de sacar uma garrafa vazia do meu bolso, para aliviar a bexiga! Nem mesmo nas horas de ponta!
Chegado a esse hospital que visitava pela primeira vez, senti-me mais à vontade! Para começar havia urinóis por toda a parte! Depois de me ter apresentado à enfermeira-chefe com a minha carta, ela pediu-me os meus documentos e preencheu uma daquelas folhas que entram no mais recôndito da nossa intimidade. Para começar, a idade! Quando, a medo, lhe disse a minha idade ela, muito surpreendida, levantou os olhos do papel, olhou-me uns momentos e muito elogiosamente afirmou:
- Está muito bem conservado para a sua idade!
Mas o que ela não sabia era que a minha bexiga começava a mostrar a sua!
***
Depois duma meia hora na sala de espera, tendo visitado duas vezes aquela pia que me sorria sempre que por lá passava, finalmente fui chamado ao gabinete do Professor. Esse professor era um homem ainda bastante jovem e bem encarado para a sua posição. A minha posição é que começou a ficar um tanto desconfortável quando ele, depois de ter lido a carta, me pediu para me despir da cintura para baixo e deitar-me naquela mais uma marquesa. Fui novamente assaltado daquele terror que me faz tremer da cabeça aos pés quando o vi começar a preparar aquele tubinho que me parecia muito ansioso de me penetrar. Mas pela uretra! Certamente mais outra sessão de sadomasoquismo! A sua assistente amparava o meu indefeso órgão enquanto o Professor apontava para atirar. Fechei os olhos e prometi a mim mesmo que essa seria a última vez! Eu não alinho muito nessas experiências de depravados sexuais. Porém ele, lentamente, começou a fazer a sua viagem através da minha uretra, na direcção da minha próstata. Ele era realmente muito carinhoso e falava-me ternamente das suas pesquisas dentro de mim. Isso acalenta bastante as vítimas de certas intervenções cirúrgicas sem anestesia! Os resultados eram sempre negativos, nada de assinalar. Às tantas ele disse-me que ia fazer um bocadinho doer, mas que seria rápido! E muito rapidamente me apercebi que aquilo não era nenhuma prenda de Natal! Às tantas ele disse-me que estava tudo muito bem mas que a próstata é que estava numa lástima, que ia ser preciso operar-me o mais rapidamente possível! Depois desenfiou o tubo, descalçou as suas luvas de borracha, desmascarou-se, e foi sentar-se à sua secretária na pequena dependência contígua, e convidou-me a segui-lo!
Sentado na sua frente, enquanto ele folheava a sua agenda em busca duma data a propor-me para essa dita urgente intervenção, eu fazia as minhas preces para que toda aquela história acabasse airosamente. Ele estacou uns momentos sobre uma das páginas da sua agenda e, fixando-me interrogativamente, sugeriu-me uma determinada data, que aceitei sem pestanejar. Eu, além das correrias para a pia para fazer a vontade à minha bexiga, estava totalmente disponível pelos anos que me restassem. Ele preencheu uma folha e estendeu-me a cópia que estava por baixo. Nessa cópia tinha a data, mais uma série de análises que teriam de ser feitas antes de ser internado. Depois informou-me dos efeitos secundários dessa raspagem à próstata. Que depois da operação eu ficaria a ter o problema de ejaculação retrógrada, e que, eventualmente, com os anos, a impotência! No meu constante desejo de gozar com as minhas próprias misérias, disse-lhe que isso seria terrível, pois que o meu ganha-pão era actuar em filmes pornográficos, e que isso ia desgraçar a minha carreira! Ele, divertido, olhou-me sorridentemente e disse-me que ou eu teria de mudar de profissão ou mudar de próstata!
Depois, muito seriamente, perguntou-me onde tinha eu feito todas aquelas raspagens à bexiga, que a bexiga estava na ponta da unha! Respondi-lhe que tinham sido feitas em três diferentes clínicas Uma em Ivry sur Seine, outra em Clamart, e a outra algures, nos arredores de Paris. Ele olhou-me embaraçadamente e disse-me algo que tanto me chocou que enquanto eu for vivo jamais me passará da memória!
- Senhor Carmo! Na região de Paris há centenas e centenas de clínicas! Cada clínica tem 30/40 camas! E essas camas têm de ser preenchidas, senão é a bancarrota e essas clínicas têm de fechar a porta! Deixe-se de clínicas! Procure sempre um hospital do Estado, coberto pela Segurança Social! Que nos hospitais eu não tinha que pagar o quarto nem despesas suplementares além da televisão!
Eu não ousei dizer-lhe o que me ia na alma ! Sobretudo na cabeça! Senti uma revolta imensa! Por momentos senti vergonha, nojo, de ser humano! Penso que ele se apercebeu do que se passava na minha mente, pois que, a fechar, disse-me que havia demasiados médicos e cirurgiões em Paris, que nenhum deles queria trabalhar na província, pois que em Paris é que se fazia muito dinheiro! Que a maioria desses médicos e cirurgiões não tinham optado por essas profissões por vocação, mas sim que tinham sido forçados pelos seus pais, que queriam oferecer um bom futuro aos seus rebentos, pois que nessas ocupações se ganha muito dinheiro! Senti vontade de vomitar e pensei em alguém que tinha dito algures muitas verdades acerca dessa casta de castiços que só pensam em castiçais!
samedi 6 février 2010
As Mil e Uma Clínicas Oportunistas
Foi neste apartamento que começaram para mim grandes problemas de saúde! A hemorragia tinha parado, mas continuava a ter que urinar quase todos os quartos de hora! Fui ver o meu médico - que por acaso era mesmo em frente da minha casa - e ele enviou-me com uma carta sua a uma clínica em Clamar, a dois passos de minha casa. Nessa clínica fui imediatamente internado e logo na manhã seguinte, depois de uma anestesia geral, fizeram-me o que eles chamaram, uma raspagem da bexiga! Depois da intervenção o cirurgião veio ao meu quarto pôr-me ao corrente do que se tinha passado. Que tinha feito não sei o quê, e que eu teria de ficar cinco dias com aquele tubo enfiado na uretra. Passados esses cinco dias voltei para casa, mas a necessidade de constantemente urinar, mantinha-se!
O tempo foi passando, e o problema continuava. Novamente o meu médico me enviou a outra clínica, desta vez em Paris. Fui ver o cirurgião no seu consultório privado, pagando 150€, que, depois de muitas perguntas me disse que a única solução era ser operado, mas que para isso teria de lhe pagar 400€ de "dépassement d'honoraires"! Na data combinada fui novamente internado nessa clínica parisiense. Uma vez mais cinco dias com um tubo pela uretra adentro e acima, mais cincos dias da hemorragia pós-operatória, e novamente, em casa, a necessidade de urinar persistia! Voltei a ver o meu médico e ele já não sabia nem o que dizer nem o que fazer!
Dias depois, no pequeno Café-Tabac onde eu ia todos os dias tomar um café e comprar tabaco, uma senhora veio sentar-se à minha mesa. Como era muito natural, começámos a conversar. Falou-se de tudo e mais alguma coisa e, às tantas, falei do meu problema de bexiga. Essa senhora perguntou o nome do meu médico. Quando lho disse ela eu um salto e disse-me que ele tinha sido o seu médico durante algum tempo mas, como ele não lhe parecia muito competente, tinha mudado de médico, e que este era muito competente! Deu-me a sua morada e imediatamente marquei consulta com ele!
Carregando comigo todos os "dossiers" possíveis e imaginários, lá foi à única consulta que tive com o médico dessa senhora. Não fui lá muitas vezes porque era mais longe e sou um grande preguiçoso para me deslocar a pé. Depois de uma meia hora na sala de espera, saiu uma senhora e quase logo a seguir ele veio convidar-me a entrar no seu gabinete. A sua sala de espera e o seu gabinete desiludiram-me um pouco. Havia teias de aranha perto do teto e um óbvio desleixo. Sentado na sua frente, aguardei uma longa meia hora que o doutor percorresse cuidadosamente todos os meus dossiers. De vez em quando fazia-me uma pergunta relacionada com algumas das suas dúvidas e, finalmente, depois de ter reposto todos esses calhamaços perto da minha cadeira, ele tirou os óculos e fez-me uma pequena carta para um professor qualquer num grande hospital de Paris. Antes de sair e depois de lhe ter pago a consulta, a mesma soma que pagava ao meu médico, ele acompanhou-me até à saída pedindo-me que o mantivesse informado acerca da continuação dos meus problemas.
De regresso a casa, a pé, fui raciocinando: Então como é que se faz que o meu médico recebe os seus pacientes sem consulta marcada e, depois, uns atrás dos outros, os seus pacientes entravam no seu gabinete, e quinze minutos mais tarde davam lugar ao próximo. Ao passo que com o outro médico, com consulta marcada, ele reteve-me quase uma hora e levou-me o mesmo preço? Foi alguns dias mais tarde que, nesse pequeno Café, voltei a encontrar essa senhora que me tinha dado a morada do seu médico. Discutimos o assunto e o que ela me contou até me arrepiou! O que ela apresentou como explicação foi realmente de fazer perder a fé na medicina e seus praticantes! Ela, olhando-me fixamente, preveniu-me: Evite os médicos que recebem os seus pacientes sem consulta marcada. Eles enchem a sala de espera com ingénuos que ainda não compreenderam as manobras, e eles despacham-se com cada qual para apenas lhes apanhar o preço da consulta. Que se estão marimbando para a nossa saúde, estão ali para apenas em quinze minutos ganharem 22€!
Residence du Parque
Antes de voltarmos para casa passámos novamente pela "Résidence du Parque", indagámos onde se encontraria a"concierge" e esbarrámos com um tipo simpatiquíssimo que foi buscar uma chave para nos mostrar o único apartamento que tinham disponível. Era realmente um apartamento espaçosíssimo! Como a casa não albergava qualquer peça de mobiliário, a sala era a vastidão dum chão assoalhado com uma grande janela da largura da superfície daquela vasta dependência, a qual dava sobre um vasto terraço que se debruçava sobre o grande jardim central. O hall de entrada também era espaçoso, assim como a cozinha, que também tinha uma grande janela que dava para esse mesmo terraço. Tinha três quartos gigantescos com janelas para as traseiras, das quais se avistava Paris lá ao longe. Boa casa de banho e novamente essas duas pequenas dependências como guarda-roupas. Ideal para ambos, pois que assim cada qual podia ter a sua independência! Imediatamente descemos até ao escritório do "concierge", assinámos um contrato, e pagámos três meses adiantados. A renda era apenas 900€, "tout compris"! Ficámos encantados e mentalmente uma vez mais enviei a prévia proprietária ao diabo, pois que tínhamos acabado de fazer um bom negócio!
A mudança foi rapidamente feita! Primeiro trouxemos o Caramelo, que fechámos num dos quartos, para o não assustar muito com toda aquela balbúrdia. Rapidamente arrumámos os móveis, mandámos fazer cortinas, decorámos a casa toda, e ficámos ali com reis, muito bem instalados, e com muito espaço para ambos. O primeiro problema foi que, para ir às compras, eu tinha de subir uma muito íngreme ladeira até à via principal onde se encontrava o supermercado. O esforço era realmente bastante violento. Um dia, de regresso a casa, fui à casa de banho urinar e, horror, urinei sangue! Agarrei nas pernas e fui a correr a uma farmácia pedir a morada dum médico. A senhora deu-me uma morada mesmo por cima do seu estabelecimento! Subi e aguardei a minha vez. A sala de espera estava a rebentar de pessoas a tossir, pois que foi durante uma grande epidemia de gripe !
Chegada a minha vez, entro no consultório, e a primeira coisa que o médico me pede sãos as minhas coordenadas. Dei-lhe o meu nome e morada e, ao escrever a minha morada, por cima dos óculos, ele disse-me que me mudasse imediatamente, que a Residência do Parque era uma "fábrica de bronquites crónicas", pelo facto do aquecimento central ser por baixo do soalho, e que isso mantinha a poeira suspensa no ar, e que isso era terrível para os brônquios, pulmões, e sinusites. Ora eu tinha deixado a Alfa por causa da poeirada e de novo ali estava eu prisioneiro desse mesmo inconveniente. Ele deu-me um tratamento para parar a hemorragia mas, mesmo assim, andei quase uma semana a urinar sangue.
Imediatamente começámos a procurar outro apartamento ali próximo, pois que Meudon era realmente um lugar muito aprazível. Durante seis meses procurámos mas eram sempre apartamentos mobilados. Cada vez que passava ao pé do apartamento na Rue des Pierres, a tabuleta anunciando "a alugar", estava lá sempre patente! Era evidente que ninguém queria aquele apartamento no deplorável estado em que o tinha visto. Finalmente, desesperados até aos colarinhos, voltámos a contactar aquela divina senhora que queria que fossemos nós a fazer as obras ao nosso gosto, mas cores clarinhas! Acabámos por alugar esse apartamento a 1.600€ e, ao pegar nas chaves, disse a essa senhora que só pensava nas entradas de dinheiro e não nas saídas, que ela tinha perdido muito mais dinheiro não tendo alugado esse apartamento durante seis meses, do que lhe teriam custado as obras! Moralidade da história, estou agora aqui a escrever as minhas memórias nesse mesmo apartamento, e já lá vão nove anos que aqui moramos!
lundi 1 février 2010
Rue des Pierres - Casa Aluga-se
Depois fomos visitar a vila, tendo como guias os nossos amigos de poucas horas. Esse passeio foi outra deslumbrante descoberta. Meudon era realmente um tesouro escondido entre as frondosas árvores! O parque, lá em cima era uma extensa arrelvada superfície com uma grande álea de arvores e um miradouro donde se avistava toda a cidade e, mais além, a Cidade Luz com a sua Torre Eiffel e Montmartre com o seu espectacular Sacré Coeur. Claro, também o impressionante Observatório de Meudon todo ao longo do outro lado do parque!
Ao descermos, apanhámos a Rue des Pierres para visitar o centro da cidade. Ao fim dessa rua, à direita, a fazer esquina com a Rue Republique - a via principal - um simpático edifício onde, no terceiro andar, numa das varandas, uma tableta que dizia: "Aluga-se", por cima dum gordo número de telefone. Como era o fim-de-semana, decidimos tomar nota desse número e telefonarmos no dia seguinte!
No dia seguinte telefonámos e foi-nos dada uma data para visitar. Chegada essa data, a essa hora marcada, a proprietária aguardava-nos à entrada para subirmos a esse terceiro andar e apreciar esse espaço que estaria disponível a partir do fim desse mês. A porta foi-nos aberta pelos então actuais inquilinos, que muito simpaticamente nos mostraram a casa toda. O apartamento era realmente muito acolhedor. Tinha três quartos, um longo corredor com casa de banho e toilette, uma grande sala com uma longa varanda que dava para as traseiras, sobre o arvoredo, uma cozinha com uma grande janela, e um hall de entrada bastante espaçoso. Tinha, sobretudo, no corredor, duas pequenas dependências sem janelas, que eram enormes espaços com varões cheios de cabides para pendurar as roupas. Gostámos do apartamento, mas como a alcatifa estava num miserável estado, assim como a pintura das janelas e paredes, perguntámos à senhora quanto tempo lhe levaria para restaurar o apartamento antes do ocuparmos. Ela respondeu, enfaticamente, que não era ela que faria as obras, que seríamos nós, ao nosso gosto. "Mas, por favor, cores muito clarinhas!" Ora ela pedia-nos 1.600€ "tout compris"! Mandei a senhora à fava desejando-lhe boa sorte com os seus próximos inquilinos, que não seríamos nós!
Depois fomos visitar a vila, tendo como guias os nossos amigos de poucas horas. Esse passeio foi outra deslumbrante descoberta. Meudon era realmente um tesouro escondido entre as frondosas árvores! O parque, lá em cima era uma extensa arrelvada superfície com uma grande álea de arvores e um miradouro donde se avistava toda a cidade e, mais além, a Cidade Luz com a sua Torre Eiffel e Montmartre e o seu milagroso Sacré Coeur. Claro, o impressionante Observatório de Meudon todo ao longo do outro lado do parque!
Ao descermos, apanhámos a Rue des Pierres para visitar o centro da cidade. Ao fim dessa rua, à direita, a fazer esquina com a Rue Republique, a via principal, um simpático edifício onde, no terceiro andar, numa das varandas, uma tableta que dizia: "Aluga-se", por cima dum gordo número de telefone. Como era o fim-de-semana, decidimos tomar nota desse número e telefonar no dia seguinte!
No dia seguinte telefonámos e foi-nos dada uma data para visitar. Chegada essa data, a essa hora marcada, a proprietária aguardava-nos à entrada para subirmos a esse terceiro andar e apreciar esse espaço que estaria disponível a partir do fim desse mês. A porta foi-nos aberta pelos então actuais inquilinos, que muito simpaticamente nos mostraram a casa toda. O apartamento era realmente muito acolhedor. Tinha três quartos, um longo corredor com casa de banho e toilette, uma grande sala que dava para as traseiras, sobre o arvoredo, uma cozinha com uma grande janela, e um hall de entrada bastante espaçoso. Tinha, sobretudo, no corredor, duas pequenas dependências sem janelas, que eram enormes espaços com varões cheios de cabides para pendurar as roupas. Gostámos do apartamento, as como a alcatifa estava num miserável estado, assim como a pintura das janelas e paredes, perguntámos à senhora quanto tempo lhe levaria para restaurar o apartamento antes do ocuparmos. Ela respondeu, enfaticamente, que não era ela que faria as obras, que seríamos nós, ao nosso gosto. Mas, por favor, cores muito clarinhas! Ora ela pedia-nos 1.600€ "tout compris"! Mandei a senhora à fava desejando-lhe boa sorte com os seus próximos inquilinos, que não seríamos nós!
O Belo Parque e o Observatório
O almoço decorreu bem. Tiveram o cuidado de preparar um almoço com um toquezinho português. Eles eram um casal acabados de regressar da sua viagem de núpcias, e o apartamento era um penugento ninho com um pequeno terraço que dava para a rua e, lá ao longe, toda aquela extensa e verdejante floresta! Falou-se da venda do nosso apartamento em Villejuif e que tínhamos de alugar um outro apartamento algures. Eles apontaram-nos lá em baixo, mesmo em frente, um aglomerado de blocos onde havia um enorme cartaz que dizia: "Apartamentos-alugam-se"! Achámos graça à coincidência e resolvemos ir deitar uma vista de olhos, mas como era domingo, os responsáveis não se encontravam e decidimos tentar no dia seguinte, telefonando para aquele número afixado no cartaz.
A Mudança Para Meudon a Florida
Em casa, durante esses dois dias, tivemos boas novidades. O nosso apartamento tinha sido vendido e teríamos que o liberar o mais rapidamente possível. Como tínhamos tido um convite para almoçar em casa duma colega do Pat, em Meudon, aproveitámos a deixa. Apanhámos a automotora para lá chegar, pois que de carro não sabíamos o caminho. Partimos de manhã cedo para estar a horas decentes de também visitar a vila.
Lá chegados, foi uma divinal surpresa! Meudon era um sítio de sonho! Mal subimos a escada para sair da estação deparousse-nos um Café-Tabac com uma pequena esplanada coberta que imediatamente me inspirou uma ternura muito especial! Mal sabia eu então que esse Café iria ser o meu Café preferido! Subimos a ladeira para chegarmos ao centro da cidade, onde morava a dita colega do Pat.
Durante essa penosa subida começámos a descobrir uma vila fascinante englobada na famosa Floresta de Meudon. A arquitectura local era dum estilo que me lembrava a bela velha Inglaterra nos descamapados. Eram pavilhões antigos abraçados por verdejantes jardins apinhados de flores. As casas eram de tijolo com largas bancadas de madeira pinho. Um deslumbramento!
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