dimanche 14 mars 2010
O Regresso ao meu Antro Amado
Depois da grande surpresa de voltar a ver aquelas paredes onde fora tão feliz no passado, ainda mais surpreendido fiquei quando me levaram ao escritório do Fernando Lopes, o filho do proprietário, que era então o director da Alfa, me ter igualmente recebido de braços abertos e me ter proposto eu voltar às minhas funções de animador, com um programa diário de duas horas. Talvez mesmo, quem sabe? o regresso do a “Bica e Copo de Água”, como nos velhos tempos de outrora!
Para começar, como Meudon é bastante longe de Créteil - onde a Alfa se instalara - falou-se de eu me mudar para Créteil. Mas quando informei o Fernando Lopes das dificuldades de alugar casa, devido a esses indecentes acordos entre os Bancos e as Agências Imobiliárias, para que os alojamentos fossem vendidos e não alugados, para assim obrigar os interessados a recorrerem aos empréstimos feitos pelos Bancos, ele pediu-me para eu ir à Câmara Municipal me inscrever para obter um apartamento e que, depois, lhe trouxesse o número de meu dossier, pois que ele era muito amigo do Presidente da Câmara, e que lhe pediria para ele interceder a meu favor.
Entretanto, enquanto aguardava os resultados dos esforços do Presidente da Câmara, foi-me proposto pela Ana Bela, (que todas as sextas-feiras falava de Poesia) eu participar no seu programa. Aceitei e imediatamente comecei a sentir-me de novo de volta a casa! O Filho Pródigo que, pouco a pouco, foi destituído de quaisquer oportunidades de voltar a ser, como dantes, o menino-prodígio!
No programa “Alameda dos Poetas”, da Ana Bela Cunha, todas as sextas-feiras das 10 ao meio-dia, tudo decorreu bem! A minha voz e a maneira de ler um texto começou a ser amplamente apreciada pelo auditório, e todas as semanas se falava dum poeta português. Sua biografia e obra. Os ouvintes que gostavam de participar telefonicamente, todos se mostraram entusiastas com a novidade! Eles recitavam poemas do Poeta do Dia ou poemas de sua própria autoria e, por vezes, para minha grande surpresa, poemas meus dos meus dois livros, Sombras ou Vagas!
A busca de apartamento em Créteil foi continuada, mas sempre sem qualquer sucesso! Só havia apartamentos à venda e, no Banco, visto a minha avançada idade, um empréstimo foi-me categoricamente recusado! Do Fernando Lopes ou do Presidente da Câmara, nunca mais obtive qualquer resultado, positivo ou negativo! Parece que, segundo um boato, um dos colaboradores ou responsáveis da Alfa, fora dizer ao Fernando Lopes que “o Rogério do Carmo já deu o que tinha a dar”! E desde ai tudo ficou a nadar em seco! Naufragado em fingimentos!
Uma vez mais, como ao longo de toda a minha vida, as invejas deram à luz a não-realização dos meus projectos e sonhos demasiado altaneiros! A minha presença, como várias vezes me aconteceu na minha vida profissional, uma vez mais incomodou os que me rodeavam, e assim, uma vez mais me cortaram as asas, para que eu não voasse mais alto do que aqueles que me temiam pelo meu profissionalismo!
Frustrado, decidi contentar-me com as minhas inglórias sextas-feiras apenas! Renunciei aos meus mais caros anseios e desejos de voltar a ser quem tivera sido nessa rádio!
Para preencher um pouco o meu tempo e calar a raiva que de mim se apoderara, continuei a escrever e a publicar no Facebook, a tentar lembrar a todos aqueles que pudessem eventualmente vir a ler-me, que eu ainda, a despeito de todas as manobras para me deitarem abaixo, continuava de pé! Pois que as árvores morrem de pé, a despeito de todos os mais inclementes vendavais!
jeudi 4 mars 2010
Saudades imensas do microfone
Depois desta abominável agressão da Ameline e indiferença do Hospital Quinze-Vingts, da desprezível apatia da Justiça, dos Ministérios e Imprensa, reduzido a quase nada depois de tantas raspagens inúteis para mim, mas muito rentáveis para os cirurgiões que apenas se preocupam em preencher camas nas clínicas onde operam, e dos "dépassements d'Honoraires" de que são peritos, para aumentar os seus ganhos diários sem demasiado mexerem o cu, resolvi pôr pedra no assunto e viver o que me restava de existência o melhor possível, tomando em consideração que eu estava reduzido aos restos mortais de quem eu tinha até então sido ! Aprendi a viver com os meus insultos à dignidade masculina, como as ejaculações retrógradas e ameaças de impotência, devido àquela raspagem da próstata que me resolvera problemas físicos e criado novos e graves problemas psicológicos ! Continuar a minha vida rindo de mim e daqueles que de mim se riem! E é precisamente o que foi a minha vida até ao dia em que, exausto de não ser mais ninguém, farto de viver num apartamento que me custava os olhos da cara, decidimos mudar de casa, pois que cada vez que mudo de casa eu principio uma nova vida. Novos projectos, novas perspectivas, novas crenças no futuro!
Assim, uma bela manhã, fomos até Créteil em busca dum apartamento. Entretanto, depois dos repugnantes acordos entre os Bancos e as Agência Imobiliárias, essas nojentas manigâncias dos Bancos para encherem ainda mais as suas caixas com as economias dos outros, de obrigar as pessoas a comprarem casa, e assim nos vermos forçadas a pedir empréstimos a esses elos dessa nefasta corrente que nos enforca ! As Agências concordaram em não alugar casas, e apenas terem a propor casas para vender. Negócios abjectos entre monopolizadores que devoram tudo à sua passagem, sem dó nem piedade pelos outros! Apenas os lucros eram, foram, e sempre serão, de maior importância! Uma espécie de obsessão, de grave doença mortal, pela eterna ambição de ficarem todos os dias um pouco ou, de preferência, muito mais ricos e poderosos, para se vingarem de certas humilhações sofridas num já distante passado, do qual, agora, nós não temos culpa alguma!
A caminho de Créteil, em busca de casa, repentinamente me veio à ideia de dar um salto a Valenton, onde a Alfa se encontra instalada! Uma feroz saudade dos meus belos tempos frente a um microfone se apoderou de mim! Esses tempos em que eu, ao aperceber-me que, por detrás desse microfone se encontravam milhares de pessoas à escuta, que eu entrava em casa deles para lhes fazer companhia, estar com eles, trazer-lhes a minha grande vontade de os relembrar que o Português era a nossa língua materna, e acabar com essas misturas de Português e Francês, que resultou nessa extravagante linguagem que crismaram de "Imigrês"!
Depois de termos visitado todas as Agências Imobiliárias da cidade, chegámos à conclusão que era tempo perdido. Só casas e apartamentos à venda! Nada de aluguer! De regresso a casa, passámos por Valenton. Não resisti à tentação de ir embebedar os olhos naquela imensa fachada da minha Alfa. Ao mesmo tempo, talvez também fazer uma fotografia como recordação. Pat arrumou o carro dentro do "parking" da Alfa e eu saí do carro para, muito discretamente, fazer uma foto ou duas. Sobretudo eu não queria que ninguém notasse que eu tinha ali voltado sem ter sido convidado. Por acaso, o Paulo, um dos meus antigos colegas, estava a fumar um cigarro à porta, reconheceu-me ! Fez-me sinal para que eu me aproximasse. Hesitei, mas ele tanto insistiu que não resisti ao desejo enorme de lhe dar um grande abraço e talvez, discretamente, acariciar aquela parede contra a qual ele se apoiava. Depois desse curto abraço Paulo convidou-me a subir para me mostrar os progressos tecnológicos que a radio tinha sofrido e, ao mesmo tempo, dar um abraço à "malta"! Como uma donzela virgem com medo de ser violada, resisti, mas bem no fundo eu estava morto por subir e perder de novo a virginade e matar saudades de tudo e de todos.
Galguei as escadas a quatro e quatro, tão ansioso estava de rever os meus domínios de outros tempos! De rever a malta toda! Logo à entrada verifiquei que tinham havido muitas modificações! A pequena dependência que tinha sido o meu escritório com a Cássia, era agora uma pequena cabine de som, e a grande dependência mesmo ao lado, que outrora fora o espaçoso escritório da doutora, era agora um estúdio com uma grande mesa oval com muitos microfones à volta, para quando, deduzi, tivessem muitos convidados a fazerem algum muito importante debate! A primeira pessoa que procurei ver, foi o Fernando! E ele lá estava no seu pequeno mundo de computadores. Ao ver-me ele abriu-me os braços, e era evidente a alegria que ele sentiu ao ver-me, depois de 12 anos de separação. O Artur, ao topar-me, deu-me um abraço tão apertado que quase me quebrou o esqueleto! Depois vieram caras novas que nunca tinha visto antes!
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